Cem Anos de Solidão
Gabriel García Márquez
Esse é um daqueles raros casos em
que conheci primeiro o autor e depois o livro. Os primeiros livros escritos por
ou sobre Gabriel Gárcia Márquez escritos pornão foram livros de ficção, livros
pelos quais ele é conhecido ou sequer o livro que lhe concedeu o primeiro
prêmio Nobel da América Latina.
Há muito anos comprei Eu Não Vim Fazer Um Discurso,
ironicamente, uma coletânea com seus discursos mais importantes. Nele García Márquez fala
sobre política, América Latina, literatura, jornalismo e amigos. Mesmo não
conhecendo nada de seus livros, fiquei fascinada por ele, por suas opiniões e a maneira como falava
da América Latina. Sempre me incomodou o fato de que nós, brasileiros, nos
sentimos superiores ao resto do continente.
“Não é só o mundo que
me ensinou a escrever, mas também a única região onde não me sinto
estrangeiro.” – Cheiro de Goiaba.
O segundo livro dele que li - Cheiro de Goiaba - era uma transcrição de conversas
suas com um grande amigo, no qual falava sobre seus personagens, sua vida após
a fama, seu papel como dialogador. Foram as referências que fazia em seus
livros e comentava durante essa “conversa” que me levaram a ler Cem Anos de Solidão.
“Muitos anos depois,
diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar
aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.”
Cem Anos de Solidão,
p.1
A história se passa ao redor da
família Buendía e seu confuso hábito de nomear seus filhos como Aurelianos,
José Arcadios ou Remédios, criando uma charmosa confusão para o leitor ao longo
do livro.
É um livro com personagens
marcantes e reais. Era comum que um personagem me despertasse simpatia para, em
seguida, sentir raiva profunda. Ao mesmo tempo que determinados personagens só
superaram minha indiferença depois de 90 anos para, em seguida, morrer.
Eu poderia dizer que Cem Anos de Solidão é exatamente a ideia
que o título traz. Que é um livro sobre solidão e a maneira como no final,
inevitavelmente, terminamos sozinhos. E às vezes, não apenas no final, mas
durante toda a vida. Poderia dizer que é um livro no qual a solidão tem suas
mais diversas fontes. A solidão da incompreensão, da indiferença, da decepção,
do arrependimento, da crueldade, da resignação. E, só por isso, eu diria que é
um livro vale a pena ser lido.
“... compreendeu de
leve que o segredo de uma boa velhice não é outra coisa senão um pacto honrado
com a solidão.”
Cem Anos de Solidão, p. 185
Mas para mim é algo mais. Algo
que para alguns pode estar contabilizado na afirmação de que esse é um livro sobre
solidão, ou vice-versa. Para mim, esse é um livro sobre a repetitibilidade do
passado e de padrões dentro de uma família que, tomada pela solidão, se tornou
apenas um conjunto de pessoas reunidas na mesma casa, cada um com seus
interesses e indiferentes uns aos outros. E essa condição tornou impossível a
quebra de tais padrões familiares.
Mas esse livro é um tipo de livro
raro. Para cada um, uma interpretação. É daquele tipo de livro no qual o autor
não quer te dar uma resposta fácil, mas sim, uma resposta sua.
Gabriel García Marquéz é adepto
do realismo fantástico, que (segundo a Wikipédia) seria uma resposta hispânica
à literatura fantástica européia. É uma fantasia diferente, sem seres mágicos e
mundos novos. Essa fantasia está incluída dentro de um mundo real, como as
superstições de seus avós, as histórias malucas de como determinado parente
morreu... É uma fantasia, como o próprio
nome diz, muito próxima da realidade. Em Cheiro
de Goiaba, Gabriel García Márquez disse recebeu bastante influência de sua
avó e tias, elas contavam histórias fantásticas quando era criança e, por isso,
sempre foi algo natural em sua vida. Conta também, que a Macondo de seu livro,
começou como o povoado onde cresceu e terminou como o povoado de sua juventude
como jornalista.
Enfim, Cem
Anos de Solidão é um livro maravilhoso para quem gosta de fantasia, para
quem gosta de realidade, para quem gosta de contexto histórico, para quem gosta
de experimentalismo.. para todo tipo de gente.
Para quem quiser ou já tiver lido
o livro, realmente recomendo Cheiro de
Goiaba. É uma maneira interessante de ver como vida e experiência do autor
influenciou, não só a maneira de escrever, mas o rumo da história.
Um link interessante para quem
estiver lendo, é esse com a árvore genealógica da família Buendía.
(Informação aleatória: No livro
existe um personagem que se chama Gabriel, neto do antigo Coronel Gerineldo
Márquez – personagem levemente importante – que vivia da caridade dos amigos e
em bordéis. Em determinado ponto da história, acabou indo para Paris e ficando
por lá. Em Cheiro de Goiaba, García
Márquez ao falar sobre sua juventude como jornalista, conta como acabou indo
trabalhar em Paris. I SEE WHAT YOU DID THERE.)
(Informação aleatória, o retorno: Na Colômbia,
o sobrenome materno vem por último. Márquez é referente à mãe de Gabriel.)
Outros livros de Gabriel García Márquez:
- · O Outono do Patriarca
- · Crônica de Uma Morte Anunciada
- · O Amor nos Tempos do Cólera
- · Memória de Minhas Putas Tristes
- · Eu Não Vim Fazer um Discurso
Outros livros sobre Gabriel García Márquez:
- · Cheiro de Goiaba, Plinio Apuleyo Mendonza
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