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domingo, 17 de março de 2013

1Q84 vol. 1, Haruki Murakami



1Q84, vol. 1
Haruki Murakami


Foi sem saber muito sobre 1Q84 que comecei a lê-lo e acho essa a maneira certa. A própria sinopse do livro não entrega muito. Ao contrário da maioria dos livros, as orelhas do livro começam com a biografia do autor, para nos últimos parágrafos dizer um pouco sobre o livro.

Aomame está em um taxi, presa em um engarrafamento e com pressa de chegar em um importante compromisso de trabalho. O motorista do taxi sugere, então, que ela use uma escada de emergência para descer o viaduto e chegar na estação de trem mais próxima.

Tengo é um professor de matemática que tem aspirações literárias e está a espera de que algo aconteça. Acaba se envolvendo nos planos de um editor para reescrever Crisálida de ar, um livro de uma misteriosa menina do colegial que precisa de alguém para melhorar sua forma.

E é isso aí.

Foi um ótima sensação começar a lê-lo sem nenhum tipo de informação mais concreta, além de um “LEIA, É MUITO BOM” de uma pessoa de confiança. Apesar disso, comecei o livro sem muitas pretenções, devagarinho. Capítulo após capítulo. Até que quando reparei, estava preparada para virar a noite até finalmente entender para onde Murakami estava me levando.

Depois de um certa quantidade de livros de um certo tipo, você meio que sabe para onde o autor está levando a história, consegue fazer suposições e até prever o caminho do livro. São raras as vezes em que eu simplesmente não faço a menor ideia do que está acontecendo e nem do que pode acontecer. Me senti assim desde a primeira página de 1Q84. E foi tão legal!

1Q84 é um livro de aproximadamente 1000 páginas. Aqui no Brasil, ele está sendo lançado em três volumes. Já foram lançados os dois primeiros e o terceiro está previsto para o final de 2013. O que é bem ruim. Aqui não se trata de uma série de livros, mas sim de um mesmo livro. O tempo de espera entre o lançamento dos volumes pode ser prejudicial para o entendimento da história, devido a essa característica do Murakami de construir a história lentamente. Eu recomendo para quem quiser ler, esperar até que os três livros sejam lançados.

Falando um pouco menos sobre a história e mais sobre a estrutura do livro, tive um leve estranhamento com a maneira que o livro foi escrito, as frases foram construídas e atenção aos detalhes e à descrição que o autor teve. Esse é o primeiro livro de um escritor oriental que li e, sinceramente, não sei as frases mais curtas, menos elaboradas é uma característica do autor ou da língua japonesa como um todo. Ao longo do livro algumas explicações sobre determinados assuntos “históricos” eram feitas e, toda vez que um novo personagem era introduzido ao plot envolvendo tais assuntos, essas explicações eram repetidas. Essas repetições não chegaram a me incomodar muito, porque cada vez eram introduzidas pequenas novas informações, mas definitivamente eram notadas.

A trama central só é exposta e o leitor só começa a ter uma noção de onde está pisando por volta da página 100; a relação entre os dois pontos de vista, por volta da página 200. Até mesmo a relação com 1984, de Georgel Orwell demora a ser estabelecida. Essa calma, longe de ser inquietante, é envolvente, hipnotizante. Murakami parecia querer criar um clima de irrealidade ao redor da história.

É um livro daqueles livros que se deve prestar atenção. Mesmo. Algumas dicas são deixadas ao longo de toda a leitura e, se você prestar atenção, vai perceber determinadas coincidências. Essas tais coincidências são mais exploradas ao longo da história e vão se tornando cada vez mais contundentes.

É algo bem gradual. E, de repente, você se dá conta que está no meio de uma história de amor, de espera. E de crueldade e magia.

1Q84 foi uma adorável surpresa.

Outros livros do autor:
  • 1Q84, volume 2;
  •  Kafka à Beira-Mar;
  • Após o Anoitcer;
  •  Do que eu falo quando eu falo de corrida;
  •  Minha querida Sputnik;
  •  Norwegian Wood.

sábado, 9 de março de 2013

Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez


Cem Anos de Solidão
Gabriel García Márquez


Esse é um daqueles raros casos em que conheci primeiro o autor e depois o livro. Os primeiros livros escritos por ou sobre Gabriel Gárcia Márquez escritos pornão foram livros de ficção, livros pelos quais ele é conhecido ou sequer o livro que lhe concedeu o primeiro prêmio Nobel da América Latina.

Há muito anos comprei Eu Não Vim Fazer Um Discurso, ironicamente, uma coletânea com seus discursos mais importantes. Nele García Márquez fala sobre política, América Latina, literatura, jornalismo e amigos. Mesmo não conhecendo nada de seus livros, fiquei fascinada por ele, por suas opiniões e a maneira como falava da América Latina. Sempre me incomodou o fato de que nós, brasileiros, nos sentimos superiores ao resto do continente.


“Não é só o mundo que me ensinou a escrever, mas também a única região onde não me sinto estrangeiro.” – Cheiro de Goiaba.


O segundo livro dele que li - Cheiro de Goiaba - era uma transcrição de conversas suas com um grande amigo, no qual falava sobre seus personagens, sua vida após a fama, seu papel como dialogador. Foram as referências que fazia em seus livros e comentava durante essa “conversa” que me levaram a ler Cem Anos de Solidão.


“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.”
Cem Anos de Solidão, p.1


A história se passa ao redor da família Buendía e seu confuso hábito de nomear seus filhos como Aurelianos, José Arcadios ou Remédios, criando uma charmosa confusão para o leitor ao longo do livro.

É um livro com personagens marcantes e reais. Era comum que um personagem me despertasse simpatia para, em seguida, sentir raiva profunda. Ao mesmo tempo que determinados personagens só superaram minha indiferença depois de 90 anos para, em seguida, morrer.

Eu poderia dizer que Cem Anos de Solidão é exatamente a ideia que o título traz. Que é um livro sobre solidão e a maneira como no final, inevitavelmente, terminamos sozinhos. E às vezes, não apenas no final, mas durante toda a vida. Poderia dizer que é um livro no qual a solidão tem suas mais diversas fontes. A solidão da incompreensão, da indiferença, da decepção, do arrependimento, da crueldade, da resignação. E, só por isso, eu diria que é um livro vale a pena ser lido.


“... compreendeu de leve que o segredo de uma boa velhice não é outra coisa senão um pacto honrado com a solidão.”
Cem Anos de Solidão, p. 185


Mas para mim é algo mais. Algo que para alguns pode estar contabilizado na afirmação de que esse é um livro sobre solidão, ou vice-versa. Para mim, esse é um livro sobre a repetitibilidade do passado e de padrões dentro de uma família que, tomada pela solidão, se tornou apenas um conjunto de pessoas reunidas na mesma casa, cada um com seus interesses e indiferentes uns aos outros. E essa condição tornou impossível a quebra de tais padrões familiares.

Mas esse livro é um tipo de livro raro. Para cada um, uma interpretação. É daquele tipo de livro no qual o autor não quer te dar uma resposta fácil, mas sim, uma resposta sua.

Gabriel García Marquéz é adepto do realismo fantástico, que (segundo a Wikipédia) seria uma resposta hispânica à literatura fantástica européia. É uma fantasia diferente, sem seres mágicos e mundos novos. Essa fantasia está incluída dentro de um mundo real, como as superstições de seus avós, as histórias malucas de como determinado parente morreu... É uma fantasia, como  o próprio nome diz, muito próxima da realidade. Em Cheiro de Goiaba, Gabriel García Márquez disse recebeu bastante influência de sua avó e tias, elas contavam histórias fantásticas quando era criança e, por isso, sempre foi algo natural em sua vida. Conta também, que a Macondo de seu livro, começou como o povoado onde cresceu e terminou como o povoado de sua juventude como jornalista.

Enfim,  Cem Anos de Solidão é um livro maravilhoso para quem gosta de fantasia, para quem gosta de realidade, para quem gosta de contexto histórico, para quem gosta de experimentalismo.. para todo tipo de gente.

Para quem quiser ou já tiver lido o livro, realmente recomendo Cheiro de Goiaba. É uma maneira interessante de ver como vida e experiência do autor influenciou, não só a maneira de escrever, mas o rumo da história.
Um link interessante para quem estiver lendo, é esse com a árvore genealógica da família Buendía.

(Informação aleatória: No livro existe um personagem que se chama Gabriel, neto do antigo Coronel Gerineldo Márquez – personagem levemente importante – que vivia da caridade dos amigos e em bordéis. Em determinado ponto da história, acabou indo para Paris e ficando por lá. Em Cheiro de Goiaba, García Márquez ao falar sobre sua juventude como jornalista, conta como acabou indo trabalhar em Paris. I SEE WHAT YOU DID THERE.)

 (Informação aleatória, o retorno: Na Colômbia, o sobrenome materno vem por último. Márquez é referente à mãe de Gabriel.)


Outros livros de Gabriel García Márquez:
  • ·         O Outono do Patriarca
  • ·         Crônica de Uma Morte Anunciada
  • ·         O Amor nos Tempos do Cólera
  • ·         Memória de Minhas Putas Tristes
  • ·         Eu Não Vim Fazer um Discurso

Outros livros sobre Gabriel García Márquez:
  • ·         Cheiro de Goiaba, Plinio Apuleyo Mendonza