Páginas

domingo, 23 de dezembro de 2012

Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo - David Foster Wallace


Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo
David Foster Wallace


Qualquer um diria que livros de não-ficção não são o meu tipo de livro e eu até poderia concordar. Os poucos que tenho ou são biografias de tenistas/músicos ou falam sobre coisas legais de ciência. Mas, então, como foi que eu cheguei a um livro de ensaios jornalístico-literários de um escritor de ficção que pela capa parece uma estrela de rock cheia de atitude e se suicidou em 2008?

Pelo Youtube.

Eu acompanho dezenas de canais literários, muitos mesmo. Em um deles, a menina disse que estava muito interessada em ler Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio que Longe de Tudo (para não ficar cansativo, vamos chamá-lo de Fred) e me peguei pensando no que tinha demais no livro para que ela ficasse tão animada com ele? Além do título extremamente legal, é claro.
Fui ler a sinopse e...
Será aceitável mergulhar uma lagosta viva numa panela de água fervente para saciar nossos desejos gastronômicos? O que a experiência de ser “mimado até a morte” num cruzeiro pelo Caribe revela sobre a natureza humana e a maneira como vivemos hoje? O que há de sublime nas raquetadas de Roger Federer e engraçado nas narrativas sufoc....”
PERAÍ, eu li Roger Federer? Roger Federer?

Acho que todo mundo que me conhece sabe que eu adoro tênis, gosto muito, muito mesmo. Acho que é um esporte fantástico, onde físico e mental precisam estar alinhados para se vencer um campeonato. Um esporte solitário que testa todos os seus limites e que vencer ou perder pode, normalmente, ser reduzido a alguns pontos cruciais ao longo do jogo. E todo mundo sabe também que eu sou fã do Roger Federer. Foi com ele que eu comecei a assistir tênis, no ano de 2009. O ano em que ninguém mais acreditava nele, no ano em que no início ele estava muito velho, muito lento, acabado (snif)... e acabou sendo um ano espetacular na carreira deles. O ano em que ele chorou na frente de milhões de pessoas porque ele não estava conseguindo jogar como ele queria e isso o estava matando (snif)².

Pois bem, melhor eu parar de falar de tênis aqui. Quando eu vi que tinha uma crônica sobre o Federer em Fred, eu imediatamente fui parar na ponte aérea Submarino-Saraiva e, por pouco, quase cedi a tentação.

Graças a um pai zeloso e preocupado com os presentes de Natal da filha, hoje eu tenho em mãos o meu próprio Fred.

Voltando a estrutura do livro. Em Fred há 6 ensaios, testemunhas das incursões do David Foster Wallace no mundo do jornalismo. O mais interessante era que ele não era jornalista e, muitas vezes, tais ensaios fariam jornalistas ortodoxos se revirarem em suas escrivaninhas. A maneira de escrever de Wallace é íntima (se essa for a palavra correta). A sua voz me acompanhou durante toda a leitura, a voz de alguém engraçado, a voz de alguém acessível e bastante observador. Um humor sem pretensão de fazer rir, um humor que está ali porque é onde deveria estar. Muitas vezes durante a leitura tive que reler um parágrafo, uma frase.

Uma característica recorrente ao longo do livro é a maneira como David Foster Wallace começa com um ensaio sobre uma situação aparentemente normal, como uma visita a Feira Estadual do Illinois ou a Feira da Lagosta do Maine, e nos leva a uma análise profunda sobre a bovinização do indíviduo, o habitante do Meio-Oeste americano, a validade de submeter animais a certas situações porque eu quero ter uma experiência gastronômica notável (esse foi o ensaio mais pertubador, de longe) e sobre os limites do corpo humano.

Entre todos os contos, meus favoritos foram Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe Tudo, Federer Como Experiência Religiosa e  Uma Coisa Surpreendentemente Divertida Que Eu Nunca Mais Vou Fazer. Pode parecer pretensioso, mas me vi em muitos dos seus comentários sobre o tempo que passou em um cruzeiro de luxo pelo Caribe Ocidental (?).

Achei fascinante o poder de observação do DFW, ele superanalizava as situações ao seu redor de uma maneira que não soava forçada, chata. Soava sincera. Seus questionamentos me pareciam uma curiosidade honesta e não uma vontade de parecer mais profundo e cult do que realmente era. Até suas palavras difíceis e suas notas de rodapé quilométricas me pareceram naturais.

Fred é o segundo livro do David Foster Wallace traduzido para o português pela Companhia das Letras, o primeiro é Breves Entrevistas com Homens Hediondos e pelo o que eu entendi ambos fazem parte de um projeto da editora para familiarizar os leitores brasileiros a fim de lançar sua obra mais famosa e ‘difícil’ (?), Infinite Jest. Eu irei atrás desses outros livros com certeza!
Recomendo!