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domingo, 14 de abril de 2013

Herança - Christopher Paolini




[Por se tratar do último livro da série há, inevitavelmente, spoilers dos três anteriores. E porque eu não consigo me controlar.]


Detalhes do Livro:
Nome original: Inheritance.
Tradução: Herança.
AutorChristopher Paolino.
Lançamento: Original: 2011.                       
                      Em português: 2012. 
Páginas: Versão original: 860.
               Versão em português: 860.
Acima, capa original. A versão lida foi em português que possui a mesma arte na capa, apenas com o título traduzido


Herança, quarto livro do ciclo da herança (ha), por Christopher Paolini, marca o final da trilogia+1 do personagem Eragon, talvez uma com um dos maiores Hatedoms que eu já tenha visto.
Fica muito complicado discutir o último livro da série sem antes eu contextualizar a vocês o que eu exatamente acho sobre o resto da série. A versão curta: É ruim. Bem ruim. A mais longa...
Se não me engano, li Eragon, primeiro da série, quando eu tinha 15 anos, idade em que é dito que o autor começou a escrevê-lo e o livro definitivamente mostra isso. Lembro que na época não achei particularmente odioso e, até hoje, 5 anos depois, como um homem altamente maduro e certo de minhas opiniões continuo não odiando, apesar de ter tentado reler o livro à fim de refrescar a memória e não ter conseguido. Eragon é clichê, é o filho bastardo de todos os tropes manjados de fantasia utilizados da mesma maneira de sempre.
Eragon, o personagem, é pobre e órfão, os personagens que discordam dele ou não gostam dele são apresentados como pessoas ruins, ele é o melhor caçador da cidade, encontra um artefato mágico, um ovo de dragão no caso, e se torna uma espécie de escolhido e vai numa jornada com um mentor de passado misterioso e, em algumas semanas, encontra a resistência contra o malvado Imperador e se torna um dos melhores espadachins e mago do mundo. Temos elfos, anões, urgals (Orcs.)...
Já ficou claro por que Eragon, o livro, foi publicado pela editora dos pais do Paolini?
Porém, novamente, o livro não é ultrajante, não tem aquele fator “quero jogar isso na parede” ou “talvez ainda sirva como peso de papel.” É entediante e, junto com Harry Potter, me introduziu mais um pouco à fantasia. Não consigo ter asco do livro.
Eldest, segundo livro da série, que por algum motivo diabos não teve o título traduzido (Se bem que do jeito que é a tradução brasileira, seria “MAIS VELHO” e deixariam assim mesmo)., por outro lado, merece toda crítica que já vi rondar por aí. Se Eragon, o livro, foi escrito pelo Paolini de 15 anos e publicado quando ele tinha 19, ou algo assim, Eldest deve ter sido escrito pelo Paolini recém-universitário, revolucionário de fila.
Eldest conta, em grande parte, de um típico Arco de Treinamento com os Elfos. O problema é que os Elfos são mais inteligentes, mais bonitos, mais fortes, mais experientes por viverem muito mais e, em geral, são uns babacas sobre esses fatos. Eles são ateus porque são maduros demais pra essas superstições bobas e são vegetarianos porque sentem a vida em torno deles. E isso é ótimo, caracteriza e diferencia um pouco a raça e tenho certeza que muitas pessoas se identificam com esses argumentos. Não quero cair na besteira de julgar esses valores, porém a forma como eles são executados é péssima. Somos expostos a enormes discursos de como ser ateu/vegetariano é o correto e, se  Eragon, o personagem, discorda, é porque ele não é um elfo e, portanto, não é inteligente o suficiente. Até que ele participa de um ritual que o transforma em um elfo, já que sua habilidade, velocidade e força estavam presas aos limites humanos.
Foi nessa hora que quase abandonei a série.
Brisingr, terceiro livro da série, que deveria ser o último, chega até a ser engraçado, devido a enorme força que ele faz para tentar reverter essas caracterizações do segundo livro e o tiro acaba saindo pela culatra. Temos que ler cenas do Eragon, o personagem, chegando a conclusão que, hey, talvez seja tudo bem comer um coelho para não morrer de fome ou, a mais bizarra, em que ele se encontra frente-a-frente com um DEUS dos anões. Huh. E enquanto o autor tenta consertar a bagunça que fez, tenta deixar escapar decisões cada vez mais ambíguas, moralmente, da parte do Eragon, o personagem, e, novamente, seria uma característica interessante do personagem caso, claro, todos parassem de tratá-lo como o paragon da virtude.
Brisingr, pelo menos, finalmente mostrou por que o vilão, Galbatorix, é realmente o vilão, vide que desde então nunca tinha sido revelado o que ele tinha feito além de ser o tirano que deu um golpe de estado no governo anterior.... composto por um grupo de 12 tiranos.
E, depois desses percalços, chegamos a Herança, quarto e último livro da série. Sinceramente, achei o melhor da série. O que não significa que seja de fato bom, mas já é algo.
Herança dá um final definitivo a série e ainda vai além da maioria dos livros do tipo e gasta algumas páginas mostrando o que acontece depois do embate final com o vilão (independente de quem tenha ganhado.). O que não significa, é claro, que tenha seus defeitos.
Herança segue o caminho Mass Effect 3 e logo já usa “hey, descobrimos esse lugar/essa arma que será instrumental para derrotar o vilão”. Sim, ok, desde o primeiro livro havia uma profecia do gênero, mas ela era vaga o suficiente para ser moldada em qualquer coisa que fosse mais conveniente à história.
O livro faz um trabalho razoável em finalmente dar motivos pro antagonista ser aquilo que realmente era dito ser, um déspota, e um pouco mais, no caso, torturador que rotineiramente faz lavagem cerebral. Porém, ele apresenta uma boa razão para o que está fazendo, o que não justifica suas ações, mas ainda assim, não invalida seus argumentos. É um conflito interessante. Por outro lado, temos o final do livro.
Caso você tenha algum remoto interesse, pare de ler, pois irei falar do final no parágrafo destacado.




O final é um Deus Ex Machina. Mas é um Deus Ex Machina muito bonito, ele não tem vergonha do que é e não tenta se esconder. Ele ocorre sem explicação alguma, não existe menção prévia de que o personagem principal ter aquele tipo de poder (apesar dele ser o melhor em tudo que faz), fazendo parecer que ele estava escondendo aquilo em seu traseiro. Um final típico pra uma série típica.


Se você já leu os outros livros da série, leia Herança, é o melhor deles. Caso não tenha lido, nem comece.