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domingo, 6 de outubro de 2013

The Princess Bride, William Goldman

The Princess Bride
William Goldman

Esse livro sempre me rodeou. Filme na sessão da tarde, citações cults em sites nerds, resenhas, referências em HIMYM.

O autor, William Goldman, trabalhou anos como roteirista de Hollywood. Ele foi o responsável pelo filme Butch Cassidy and the Sundance Kid, com o qual ganhou o Oscar de melhor roteiro original e tem uma atitude bastante cínica quanto ao título de escritor.

No prefácio (gigante) da minha edição, Goldman conta como, na verdade, o livro que o leitor tem em mãos é uma versão reduzida do livro escrito por S. Morgenstern, que seu pai leu para ele quando ele era criança e estava se recuperando de uma pneumonia. Ele conta também (com ocasionais referências à sua ex-mulher, Helen, uma brilhante e fria psiquiatra) como ele era uma criança totalmente desinteressada pela escola e, principalmente, por livros e como tudo mudou quando ele teve contato com The Princess Bride e como isso o transformou completamente. E, por isso, quando seu filho Jason tinha 10 anos, ele acho fundamental o presentear com uma cópia do livro. O único problema é seu filho detestou a história e, então, ele descobriu que o seu pai pulava todas as partes chatas sobre política, história e excessivas descrições do autor. Foi, então, que ele resolveu fazer a sua própria versão, baseada na história que o seu pai lhe contou quando criança.

E, assim, nasceu The Princess Bride.


Beautiful, flaxen-haired Buttercup has fallen for Westley, the farm boy, and whe he departs to make his fortune she vows never to love another. When she hears that his ship has been captured bu the Dread Pirate Roberts - who never leaves survivors - her heart is broken. But her charms draw the attention of the relentless Prince Humperdinck who wants a wife and will go to any lengths to have Buttercup. So starts a fairy tale like no other, of fencing, fighting, torture, poison, true love, hate, revenge, giants, hunters, bad men, good men, beautifulest ladies, snakes, spiders, beasts, chases, escapes, lies, truths, passion and miracles.


E o livro é assim mesmo. Como na descrição. É um livro cheio de aventuras e lutas. E reviravoltas. E o amor verdadeiro é algo a ser perseguido, assim como a vingança. É o tipo de aventura que só tem um final possível e ele não acontece. Não à olhos vistos. Mas isso em nenhum momento desmerece a qualidade da história. Não se trata do final. Se trata dos comentários sarcásticos. São as intervenções em itálico que Goldman insere no meio da história (ás vezes em momentos críticos) para contar como foi a reação dele criança ao ouvir a história ou para falar que iria cortar as próximas 40 páginas porque Morgenstern descreveu as 65 trocas de chapéu da princesa de Guilder ou porque ele resolveu contar sobre todas as 90 noites preparatórias de determinado casamento e só as últimas 60 realmente importavam. É o sorriso com o qual você lê o livro inteiro.

O livro conta a história de Buttercup, a donzela mais linda do mundo em sua época, que se apaixonou por Westley, o farm boy, que sempre a amou em segredo. Após ambos se declararem, Westley decidi partir em busca de riquezas para poder dar uma vida digna a Buttercup, mas acaba sendo raptado e morto pelo Dread Pirate Roberts. Buttercup fica, então, desolada e, após alguns anos, aceita se casar com o Príncipe Humperdinck. Pouco tempo antes do casamento, ela é raptada por um trio de foras-da-lei que pretendem assassiná-la, de modo a incriminar o país vizinho e iniciar uma guerra. Só que eles não contavam com um misterioso homem vestido de preto que passou a segui-los.


Todos os personagens são extremamente carismáticos. Westley. Buttercup. Fezzik. E,claro, INIGO MONTOYA, com o quote mais famoso do livro:


"Hello. My name is Inigo Montoya. You killed my father. Prepare to die."


É um livro extremamente divertido e cativante. Metalinguístico. Previsível. Incrível.

O livro foi transformado em um filme, cujo roteiro foi feito pelo próprio William Goldman. Eu dei uma pesquisada, e parece que essa é uma das adaptações de livro mais bem feitas. O que faz muito sentido, né?

Para quem pretende ler o livro, não recomendo ler qualquer coisa na página da Wikipedia. Não que contenha spoilers, mas pode acabar um pouco com a graça do livro.





E um comentário para quem já leu o livro ou não se importa com spoilers.

Eu acreditei totalmente que a história do Morgenstein era verdadeira até a metade do livro, quando eu resolvi pesquisar alguma coisa na Wikipedia e descobri que era tudo lorota! Incrível como ele criou toda uma história por trás da própria história. 

domingo, 14 de abril de 2013

Herança - Christopher Paolini




[Por se tratar do último livro da série há, inevitavelmente, spoilers dos três anteriores. E porque eu não consigo me controlar.]


Detalhes do Livro:
Nome original: Inheritance.
Tradução: Herança.
AutorChristopher Paolino.
Lançamento: Original: 2011.                       
                      Em português: 2012. 
Páginas: Versão original: 860.
               Versão em português: 860.
Acima, capa original. A versão lida foi em português que possui a mesma arte na capa, apenas com o título traduzido


Herança, quarto livro do ciclo da herança (ha), por Christopher Paolini, marca o final da trilogia+1 do personagem Eragon, talvez uma com um dos maiores Hatedoms que eu já tenha visto.
Fica muito complicado discutir o último livro da série sem antes eu contextualizar a vocês o que eu exatamente acho sobre o resto da série. A versão curta: É ruim. Bem ruim. A mais longa...
Se não me engano, li Eragon, primeiro da série, quando eu tinha 15 anos, idade em que é dito que o autor começou a escrevê-lo e o livro definitivamente mostra isso. Lembro que na época não achei particularmente odioso e, até hoje, 5 anos depois, como um homem altamente maduro e certo de minhas opiniões continuo não odiando, apesar de ter tentado reler o livro à fim de refrescar a memória e não ter conseguido. Eragon é clichê, é o filho bastardo de todos os tropes manjados de fantasia utilizados da mesma maneira de sempre.
Eragon, o personagem, é pobre e órfão, os personagens que discordam dele ou não gostam dele são apresentados como pessoas ruins, ele é o melhor caçador da cidade, encontra um artefato mágico, um ovo de dragão no caso, e se torna uma espécie de escolhido e vai numa jornada com um mentor de passado misterioso e, em algumas semanas, encontra a resistência contra o malvado Imperador e se torna um dos melhores espadachins e mago do mundo. Temos elfos, anões, urgals (Orcs.)...
Já ficou claro por que Eragon, o livro, foi publicado pela editora dos pais do Paolini?
Porém, novamente, o livro não é ultrajante, não tem aquele fator “quero jogar isso na parede” ou “talvez ainda sirva como peso de papel.” É entediante e, junto com Harry Potter, me introduziu mais um pouco à fantasia. Não consigo ter asco do livro.
Eldest, segundo livro da série, que por algum motivo diabos não teve o título traduzido (Se bem que do jeito que é a tradução brasileira, seria “MAIS VELHO” e deixariam assim mesmo)., por outro lado, merece toda crítica que já vi rondar por aí. Se Eragon, o livro, foi escrito pelo Paolini de 15 anos e publicado quando ele tinha 19, ou algo assim, Eldest deve ter sido escrito pelo Paolini recém-universitário, revolucionário de fila.
Eldest conta, em grande parte, de um típico Arco de Treinamento com os Elfos. O problema é que os Elfos são mais inteligentes, mais bonitos, mais fortes, mais experientes por viverem muito mais e, em geral, são uns babacas sobre esses fatos. Eles são ateus porque são maduros demais pra essas superstições bobas e são vegetarianos porque sentem a vida em torno deles. E isso é ótimo, caracteriza e diferencia um pouco a raça e tenho certeza que muitas pessoas se identificam com esses argumentos. Não quero cair na besteira de julgar esses valores, porém a forma como eles são executados é péssima. Somos expostos a enormes discursos de como ser ateu/vegetariano é o correto e, se  Eragon, o personagem, discorda, é porque ele não é um elfo e, portanto, não é inteligente o suficiente. Até que ele participa de um ritual que o transforma em um elfo, já que sua habilidade, velocidade e força estavam presas aos limites humanos.
Foi nessa hora que quase abandonei a série.
Brisingr, terceiro livro da série, que deveria ser o último, chega até a ser engraçado, devido a enorme força que ele faz para tentar reverter essas caracterizações do segundo livro e o tiro acaba saindo pela culatra. Temos que ler cenas do Eragon, o personagem, chegando a conclusão que, hey, talvez seja tudo bem comer um coelho para não morrer de fome ou, a mais bizarra, em que ele se encontra frente-a-frente com um DEUS dos anões. Huh. E enquanto o autor tenta consertar a bagunça que fez, tenta deixar escapar decisões cada vez mais ambíguas, moralmente, da parte do Eragon, o personagem, e, novamente, seria uma característica interessante do personagem caso, claro, todos parassem de tratá-lo como o paragon da virtude.
Brisingr, pelo menos, finalmente mostrou por que o vilão, Galbatorix, é realmente o vilão, vide que desde então nunca tinha sido revelado o que ele tinha feito além de ser o tirano que deu um golpe de estado no governo anterior.... composto por um grupo de 12 tiranos.
E, depois desses percalços, chegamos a Herança, quarto e último livro da série. Sinceramente, achei o melhor da série. O que não significa que seja de fato bom, mas já é algo.
Herança dá um final definitivo a série e ainda vai além da maioria dos livros do tipo e gasta algumas páginas mostrando o que acontece depois do embate final com o vilão (independente de quem tenha ganhado.). O que não significa, é claro, que tenha seus defeitos.
Herança segue o caminho Mass Effect 3 e logo já usa “hey, descobrimos esse lugar/essa arma que será instrumental para derrotar o vilão”. Sim, ok, desde o primeiro livro havia uma profecia do gênero, mas ela era vaga o suficiente para ser moldada em qualquer coisa que fosse mais conveniente à história.
O livro faz um trabalho razoável em finalmente dar motivos pro antagonista ser aquilo que realmente era dito ser, um déspota, e um pouco mais, no caso, torturador que rotineiramente faz lavagem cerebral. Porém, ele apresenta uma boa razão para o que está fazendo, o que não justifica suas ações, mas ainda assim, não invalida seus argumentos. É um conflito interessante. Por outro lado, temos o final do livro.
Caso você tenha algum remoto interesse, pare de ler, pois irei falar do final no parágrafo destacado.




O final é um Deus Ex Machina. Mas é um Deus Ex Machina muito bonito, ele não tem vergonha do que é e não tenta se esconder. Ele ocorre sem explicação alguma, não existe menção prévia de que o personagem principal ter aquele tipo de poder (apesar dele ser o melhor em tudo que faz), fazendo parecer que ele estava escondendo aquilo em seu traseiro. Um final típico pra uma série típica.


Se você já leu os outros livros da série, leia Herança, é o melhor deles. Caso não tenha lido, nem comece.

domingo, 17 de março de 2013

1Q84 vol. 1, Haruki Murakami



1Q84, vol. 1
Haruki Murakami


Foi sem saber muito sobre 1Q84 que comecei a lê-lo e acho essa a maneira certa. A própria sinopse do livro não entrega muito. Ao contrário da maioria dos livros, as orelhas do livro começam com a biografia do autor, para nos últimos parágrafos dizer um pouco sobre o livro.

Aomame está em um taxi, presa em um engarrafamento e com pressa de chegar em um importante compromisso de trabalho. O motorista do taxi sugere, então, que ela use uma escada de emergência para descer o viaduto e chegar na estação de trem mais próxima.

Tengo é um professor de matemática que tem aspirações literárias e está a espera de que algo aconteça. Acaba se envolvendo nos planos de um editor para reescrever Crisálida de ar, um livro de uma misteriosa menina do colegial que precisa de alguém para melhorar sua forma.

E é isso aí.

Foi um ótima sensação começar a lê-lo sem nenhum tipo de informação mais concreta, além de um “LEIA, É MUITO BOM” de uma pessoa de confiança. Apesar disso, comecei o livro sem muitas pretenções, devagarinho. Capítulo após capítulo. Até que quando reparei, estava preparada para virar a noite até finalmente entender para onde Murakami estava me levando.

Depois de um certa quantidade de livros de um certo tipo, você meio que sabe para onde o autor está levando a história, consegue fazer suposições e até prever o caminho do livro. São raras as vezes em que eu simplesmente não faço a menor ideia do que está acontecendo e nem do que pode acontecer. Me senti assim desde a primeira página de 1Q84. E foi tão legal!

1Q84 é um livro de aproximadamente 1000 páginas. Aqui no Brasil, ele está sendo lançado em três volumes. Já foram lançados os dois primeiros e o terceiro está previsto para o final de 2013. O que é bem ruim. Aqui não se trata de uma série de livros, mas sim de um mesmo livro. O tempo de espera entre o lançamento dos volumes pode ser prejudicial para o entendimento da história, devido a essa característica do Murakami de construir a história lentamente. Eu recomendo para quem quiser ler, esperar até que os três livros sejam lançados.

Falando um pouco menos sobre a história e mais sobre a estrutura do livro, tive um leve estranhamento com a maneira que o livro foi escrito, as frases foram construídas e atenção aos detalhes e à descrição que o autor teve. Esse é o primeiro livro de um escritor oriental que li e, sinceramente, não sei as frases mais curtas, menos elaboradas é uma característica do autor ou da língua japonesa como um todo. Ao longo do livro algumas explicações sobre determinados assuntos “históricos” eram feitas e, toda vez que um novo personagem era introduzido ao plot envolvendo tais assuntos, essas explicações eram repetidas. Essas repetições não chegaram a me incomodar muito, porque cada vez eram introduzidas pequenas novas informações, mas definitivamente eram notadas.

A trama central só é exposta e o leitor só começa a ter uma noção de onde está pisando por volta da página 100; a relação entre os dois pontos de vista, por volta da página 200. Até mesmo a relação com 1984, de Georgel Orwell demora a ser estabelecida. Essa calma, longe de ser inquietante, é envolvente, hipnotizante. Murakami parecia querer criar um clima de irrealidade ao redor da história.

É um livro daqueles livros que se deve prestar atenção. Mesmo. Algumas dicas são deixadas ao longo de toda a leitura e, se você prestar atenção, vai perceber determinadas coincidências. Essas tais coincidências são mais exploradas ao longo da história e vão se tornando cada vez mais contundentes.

É algo bem gradual. E, de repente, você se dá conta que está no meio de uma história de amor, de espera. E de crueldade e magia.

1Q84 foi uma adorável surpresa.

Outros livros do autor:
  • 1Q84, volume 2;
  •  Kafka à Beira-Mar;
  • Após o Anoitcer;
  •  Do que eu falo quando eu falo de corrida;
  •  Minha querida Sputnik;
  •  Norwegian Wood.

sábado, 9 de março de 2013

Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez


Cem Anos de Solidão
Gabriel García Márquez


Esse é um daqueles raros casos em que conheci primeiro o autor e depois o livro. Os primeiros livros escritos por ou sobre Gabriel Gárcia Márquez escritos pornão foram livros de ficção, livros pelos quais ele é conhecido ou sequer o livro que lhe concedeu o primeiro prêmio Nobel da América Latina.

Há muito anos comprei Eu Não Vim Fazer Um Discurso, ironicamente, uma coletânea com seus discursos mais importantes. Nele García Márquez fala sobre política, América Latina, literatura, jornalismo e amigos. Mesmo não conhecendo nada de seus livros, fiquei fascinada por ele, por suas opiniões e a maneira como falava da América Latina. Sempre me incomodou o fato de que nós, brasileiros, nos sentimos superiores ao resto do continente.


“Não é só o mundo que me ensinou a escrever, mas também a única região onde não me sinto estrangeiro.” – Cheiro de Goiaba.


O segundo livro dele que li - Cheiro de Goiaba - era uma transcrição de conversas suas com um grande amigo, no qual falava sobre seus personagens, sua vida após a fama, seu papel como dialogador. Foram as referências que fazia em seus livros e comentava durante essa “conversa” que me levaram a ler Cem Anos de Solidão.


“Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.”
Cem Anos de Solidão, p.1


A história se passa ao redor da família Buendía e seu confuso hábito de nomear seus filhos como Aurelianos, José Arcadios ou Remédios, criando uma charmosa confusão para o leitor ao longo do livro.

É um livro com personagens marcantes e reais. Era comum que um personagem me despertasse simpatia para, em seguida, sentir raiva profunda. Ao mesmo tempo que determinados personagens só superaram minha indiferença depois de 90 anos para, em seguida, morrer.

Eu poderia dizer que Cem Anos de Solidão é exatamente a ideia que o título traz. Que é um livro sobre solidão e a maneira como no final, inevitavelmente, terminamos sozinhos. E às vezes, não apenas no final, mas durante toda a vida. Poderia dizer que é um livro no qual a solidão tem suas mais diversas fontes. A solidão da incompreensão, da indiferença, da decepção, do arrependimento, da crueldade, da resignação. E, só por isso, eu diria que é um livro vale a pena ser lido.


“... compreendeu de leve que o segredo de uma boa velhice não é outra coisa senão um pacto honrado com a solidão.”
Cem Anos de Solidão, p. 185


Mas para mim é algo mais. Algo que para alguns pode estar contabilizado na afirmação de que esse é um livro sobre solidão, ou vice-versa. Para mim, esse é um livro sobre a repetitibilidade do passado e de padrões dentro de uma família que, tomada pela solidão, se tornou apenas um conjunto de pessoas reunidas na mesma casa, cada um com seus interesses e indiferentes uns aos outros. E essa condição tornou impossível a quebra de tais padrões familiares.

Mas esse livro é um tipo de livro raro. Para cada um, uma interpretação. É daquele tipo de livro no qual o autor não quer te dar uma resposta fácil, mas sim, uma resposta sua.

Gabriel García Marquéz é adepto do realismo fantástico, que (segundo a Wikipédia) seria uma resposta hispânica à literatura fantástica européia. É uma fantasia diferente, sem seres mágicos e mundos novos. Essa fantasia está incluída dentro de um mundo real, como as superstições de seus avós, as histórias malucas de como determinado parente morreu... É uma fantasia, como  o próprio nome diz, muito próxima da realidade. Em Cheiro de Goiaba, Gabriel García Márquez disse recebeu bastante influência de sua avó e tias, elas contavam histórias fantásticas quando era criança e, por isso, sempre foi algo natural em sua vida. Conta também, que a Macondo de seu livro, começou como o povoado onde cresceu e terminou como o povoado de sua juventude como jornalista.

Enfim,  Cem Anos de Solidão é um livro maravilhoso para quem gosta de fantasia, para quem gosta de realidade, para quem gosta de contexto histórico, para quem gosta de experimentalismo.. para todo tipo de gente.

Para quem quiser ou já tiver lido o livro, realmente recomendo Cheiro de Goiaba. É uma maneira interessante de ver como vida e experiência do autor influenciou, não só a maneira de escrever, mas o rumo da história.
Um link interessante para quem estiver lendo, é esse com a árvore genealógica da família Buendía.

(Informação aleatória: No livro existe um personagem que se chama Gabriel, neto do antigo Coronel Gerineldo Márquez – personagem levemente importante – que vivia da caridade dos amigos e em bordéis. Em determinado ponto da história, acabou indo para Paris e ficando por lá. Em Cheiro de Goiaba, García Márquez ao falar sobre sua juventude como jornalista, conta como acabou indo trabalhar em Paris. I SEE WHAT YOU DID THERE.)

 (Informação aleatória, o retorno: Na Colômbia, o sobrenome materno vem por último. Márquez é referente à mãe de Gabriel.)


Outros livros de Gabriel García Márquez:
  • ·         O Outono do Patriarca
  • ·         Crônica de Uma Morte Anunciada
  • ·         O Amor nos Tempos do Cólera
  • ·         Memória de Minhas Putas Tristes
  • ·         Eu Não Vim Fazer um Discurso

Outros livros sobre Gabriel García Márquez:
  • ·         Cheiro de Goiaba, Plinio Apuleyo Mendonza




domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Esperança - Suzanne Collins



Detalhes do Livro:
Nome original: Mockingjay.
Tradução: A Esperança.
Autor: Suzanne Collins
Lançamento: Original: 2010.                       
                      Em português: 2011. 
Páginas: Versão original: 390.               
               Versão em português: 435.
Acima, capa original. A versão lida foi em português que possui a mesma arte na capa, apenas com o título traduzido

[ESTA RESENHA POSSUI SPOILERS TENSÍSSIMOS DA SÉRIE. PROSSIGA COM CUIDADO]

A Esperança, concorrendo ao prêmio de tradução mais escrota pro português, é o terceiro livro da série Jogos Vorazes por Suzanne Collins, que traz um tipo diferente de trama para finalizar a saga.
Começando, novamente, imediatamente de onde parou o seu antecessor, voltamos a acompanhar o ponto de vista Katniss, lidando com seus ferimentos e todas as revelações que foram cuspidas nas últimas páginas do livro anterior.
Provavelmente há um aviso em negrito enorme ali em cima, mas vale salientar, devido a natureza da trama desse livro, fica impossível discutir personagens, setting e toda a história em si sem conhecimento prévio dos outros dois livros, não continue a leitura caso não os tenha lido (ou não se importe.). E vocês sabem como eu sou, geralmente conto o final só para ter o prazer de criticar o final. (Ou escrever uma carta de amor pro final, como devem ter visto nas resenhas de Discworld.)
Já comentei no primeiro parágrafo e repito, A Esperança é um livro completamente diferente dos outros da série. Claro, não estava esperando um 76º Jogo e outro rearranjo do plot dos dois primeiros livros, que são bem parecidos. Na verdade, não estava esperando nada, porém ainda assim foi uma surpresa.
Katniss é levada ao Distrito 13, que existe. Realmente no passado houve uma rebelião, mas tal Distrito nunca foi destruído, houve um acordo com a Capital, pois qualquer embate poderia significar o extermínio da maioria da população. Então, pelo acordo, a Capital divulga que massacrou o Distrito 13 enquanto eles podem viver em paz. Obviamente, o Distrito 13 apresentou esse tempo para se preparar para outra rebelião.
A primeira surpresa agradável, digamos assim, é que há uma tentativa de mostrar um conflito realista ou pelo menos diferente do ‘bang bang bang’ e ‘VAMOS INVADIR TUTTO’ que esse tipo de livro geralmente apresenta. Há um grande enfoque na propaganda, na tentativa de conseguir aliados na forma dos outros Distritos contra a Capital, embora eu ache que o livro gaste um tempo demasiado em mostrar que a Katniss não é boa atriz e, portanto, não consegue fazer seus discursos na propaganda soarem convincentes e passionais e isso a deixa tão angustiada e, oh não. Claro, há motivos reais para ela estar em frangalhos psicologicamente, como as muitas mortes e destruição que, indiretamente, ela foi a catalisadora. O que faz toda a angústia das propagandas parecer boba.
Outra surpresa agradável é que o Distrito 13 não nos é apresentado como um exemplo de moral e conduta. Ele funciona como uma ditadura, sim, mais benevolente, mas ainda assim. Devido aos percalços de morar embaixo da terra, toda manhã lhe é gravado na pele como o seu dia inteiro está programado e a Presidente Coin, o nome já é uma dica, não tem lá as melhores intenções e é gananciosa.
Pelo lado da caracterização, também há avanço, tudo que Katniss já passou pela série definitivamente resultou num baque na mente dela e, olha só, até há interações entre ela e Prim! Que, se vocês se lembram, foi o motivo dela ter entrado nos Jogos Vorazes pela primeira vez e que causou tudo isso. O diálogo entre as duas ainda é pouco, mas torna mais palpável e contextual o fato de Katniss ter se oferecido para sofrer nos Jogos no lugar da irmã.
Os participantes do 75º Jogo também são trabalhados e, na minha opinião, são os personagens mais bem trabalhados nesse livro, ganham melhor development, tem cenas dedicadas a si e, em geral, são bem legais.
Correndo o risco de dar mais spoils ainda, devo avisar que certos personagens morrem. E também é outra agradável surpresa. Não que eu sinta prazer em ver personagens morrendo, embora Suzanne Collins definitivamente pareça, mas nos livros anteriores era fácil saber quem iria morrer: quem não tem nome ou só tem uma única função. Cato era malvado, Rue era pura... Essas coisas. Ver personagens recorrentes da série, já bem estabelecidos, morrerem pros horrores da guerra é refrescante. Claro, é o que se espera de um último livro de séries do tipo.
Infelizmente, o livro ainda cai em algumas coisas que já mencionei antes. A angústia do momento é o fato de Peeta estar capturado e, aparentemente, ter se convertido ao lado da Capital. Ele está claramente sofrendo e sendo coagido, ou algo do tipo, a apoiar a Capital. E, enquanto isso é terrível e a vida dele está completamente miserável, o grande problema de Katniss por isso são os sentimentos em relação a ele e Galé. Sim, comparados ao livro anterior, gasta-se bem menos tempo nisso, porém é a mesma ladainha de sempre com um contexto diferente.
No final da rebelião, temos o usual ‘bang bang bang’, mas acredito que a conclusão lógica de um golpe de estado é invadir a sede de tal estado, então não há problema nenhum para mim, vide que boa parte do livro é a preparação a tal ataque.
Não há mais nada realmente digno de nota, rasguei elogios ao livro e só comentei de um problema que encontrei. Ainda há outros, sim, porém, assim como o já mencionado, são problemas recorrentes da série que já me alonguei nas outras resenhas.
            Portanto, A Esperança é um enorme progresso e um final melhor que o esperado para a série Jogos Vorazes, porém sofre por ser a sequência de um livro mediano e um definitivamente ruim.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Em Chamas - Suzanne Collins



Detalhes do Livro:
Nome original: Catching Fire.
Tradução: Em Chamas.
AutorSuzanne Collins
Lançamento: Original: 2009.                       
                      Em português: 2011. 
Páginas: Versão original: 391               
               Versão em português: 416
Acima, capa original. A versão lida foi em português que possui a mesma arte na capa, apenas com o título traduzido

[ESTA RESENHA POSSUI SPOILERS SERÍSSIMOS DO PRIMEIRO LIVRO, OU SERIA IMPOSSÍVEL DISCUTI-LO. PROSSIGA COM CUIDADO]

Em Chamas, segundo livro da série Jogos Vorazes, por Suzanne Collins continua a história pelo ponto de vista Katniss exatamente onde parou o primeiro livro, após vencer o 74º Jogo.
Em Chamas se foca, de início, assim como seu antecessor, a mostrar todo o absurdo e futilidade que cerca os participantes dos jogos, nesse caso, os vencedores. Katniss e Peeta são obrigados a assistir um vídeo de horas e horas mostrando os melhores momentos dos Jogos, são entrevistados diversas vezes, tudo enquanto fingem estar em um relacionamento funcional. Novamente, esse relacionamento foi forjado para conseguirem apoio durante os Jogos, porém, Peeta realmente está apaixonado por Katniss, enquanto ela... Não.
Logo após toda a experiência traumática que passaram, os personagens são jogados nessa situação onde devem relembrar tudo e falar sobre e fingir estar felizes. Após toda a tietagem que recebem na Capital, ambos devem sair de Distrito em Distrito em uma espécie de “marcha de vitória”, encontrar e dialogar com os pais dos participantes dos jogos o que acaba sendo terrível no caso dos participantes que eles mataram. E podemos acompanhar o lado psicológico de Katniss se deteriorando.
Em um determinado Distrito, a população faz um gesto de reverência a Katniss e Peeta, os primeiros a deliberadamente desafiar os criadores dos Jogos, forçando-os a admitir dois vitoriosos. Tudo isso é ainda mais alimentado pelo broche de Tordo, já símbolo de um erro da Capital. Em retaliação, a Capital ataca a multidão que fez esse gesto e os personagens principais chegam a presenciar um homem sendo morto por soldados.
Até os frutos da vitória mais utilitários vêm com um gosto amargo para ambos. Como prêmio, os participantes de todo mundo ganham casas em um condomínio específico para vencedores dos Jogos em seus distritos. O problema é que, por serem o segundo e terceiro vencedores dos jogos, morarão lá sozinhos, apenas como Haymitch de companhia, esse mais distante e afundado no seu vício.
E essa é a primeira metade do livro.
Tudo é feito corrido, só se gasta mais tempo na situação descrita acima, indicando sinais do começo de uma revolta civil. Não é dada ao leitor a oportunidade de conhecer mais de perto os outros Distritos, seja seu funcionamento ou aparência, que seja. Por isso, o mundo criado pela autora continua superficial e pequeno. Até momentos que permitiriam trabalhar o personagem de Katniss e Peeta como, por exemplo, interagir com os pais de Rue, ou Cato, personagens importantes no último livro são corridos e só se perde com algumas linhas com eles. É principalmente explícito no caso de Rue, que motivou tanto do crescimento de Katniss em Jogos Vorazes.
Além disso, também é introduzido nesse livro, apenas algumas dicas no anterior, um triângulo amoroso entre Peeta-Katniss-Gale, Gale sendo o melhor amigo de Katniss e parceiro de caças existente desde o primeiro livro, claramente apaixonado por ela também, mas não importante a ponto de aparecer mais que algumas páginas no começo do livro anterior. Perde-se tempo demais no triângulo e em todo drama de Katniss fingir estar em um relacionamento com um deles, mas tendo sentimentos difusos em relação a ambos.
No meio desse tédio, sem ainda um resquício de trama a não ser a tortura contínua dos pobres personagens a não ser uma tênue indicação de uma possível, talvez, revolta em alguns distritos motivados pelo final do 74º jogo, anunciam-se as regras do 75º Jogo, edição especial, sendo um Massacre Quaternário!
Posso estar enganado, mas tenho quase certeza de que o conceito de Massacre Quaternário não foi nem aludido em algum ponto anterior a esse no próprio livro, então me permitam explicar: Trata-se de uma edição comemorativa dos jogos, acontecendo de 25 em 25 anos, em que são colocadas regras especiais em cada caso para apimentar um pouco mais. Nesse caso, no 75º Jogo, os participantes de cada distrito, serão uma dupla de vencedores de jogos anteriores.
...
Enquanto por um lado, faz sentido e é aludido que é um plano específico do Presidente Snow para tentar se livrar da imagem de Katniss e Peeta, também é extremamente conveniente para a autora reprisar o plot anterior. Então somos forçados a assistir tudo novamente: A preparação, o desfile com vestidos especiais, as entrevistas, aqueles momentos de treinamento e a apresentação dos participantes para nós leitores.
Embora, devo admitir, que logo de começo nos é dado mais nomes de participantes dos Jogos do que na totalidade do livro anterior além de dar um maior aprofundamento em suas personalidades. Ou seja, a caracterização melhorou, embora isso já indique o que vá acontecer...
Os Jogos em si também são mais interessantes que o anterior, apesar da mesmice, a arena é mais interessante e logo outros personagens aparecem para deliberadamente ajudar Katniss, tornando uma experiência diferente do Jogo anterior, onde ela ficou sozinha ou apenas com Peeta ou apenas com Rue. Porém toda essa ajuda e espírito fraterno dentro de uma arena de combate obviamente aponta para uma trama maior e somado com comentários misteriosos de um criador do jogo para Katniss sobre Tordos, provavelmente envolvidos com a tal revolta. O que resulta num enorme cliffhanger.
Sim, o Jogo acaba e de uma maneira novamente bem mais interessante que o anterior, e o livro vomita um monte de plot twists e explicações no último capítulo por meio de uma conversa, pura exposition, em algo que quase tenho vontade de chamar Efeito J.K Rowling. O problema em si não é o cliffhanger, céus, essa é uma das ferramentas usadas em qualquer mídia para você continuar acompanhando-a, mas sim como é. Alguns desses plot twists foram bem aludidos durante o livro e são bastante razoáveis enquanto outros parecem ter sido criados na hora para gerar tensão, torcendo que não pensemos muito no assunto. Se eu não tivesse lido os três lidos em seqüência, teria ficado bastante decepcionado com certas partes do final.
Por fim, Em Chamas tinha o potencial de ser uma seqüência melhor que Jogos Vorazes, porém poucas de suas boas ideias foram bem executadas e somos expostos a um milhão de revelações nas últimas páginas na tentativa do livro de fingir ter um plot bem amarrado.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Jogos Vorazes - Suzanne Collins




Detalhes do Livro:
Nome original: Hunger Games.
Tradução: Jogos Vorazes
AutorSuzanne Collins
Lançamento: Original: 2008.                       
                      Em português: 2010. 
Páginas: Versão original: 374.                
               Versão em português: 400.
Acima, capa original. A versão lida foi em português que possui a mesma arte na capa, apenas com o título traduzido.


Após quase um mês sem um computador funcional e um terrível surto de preguiça, Mariana me ultrapassou! Hora de recuperar o tempo perdido. Tenho cerca de 10 livros lidos desde então e preciso me apressar...
Jogos Vorazes, primeiro livro da série Jogos Vorazes, escrito pro Suzanne Collins, contada pelo ponto de vista da personagem principal Katniss Everdeen, onde ela se oferece para participar dos chamados Jogos Vorazes no lugar de sua irmã, Prim, que foi a sorteada deste ano.
Antes de começar, sempre vejo pessoas resenhando esse livro e comparando com Battle Royale, um livro japonês de 1999 de Koushun Takami, depois transformado em manga em 2000, pelo mesmo autor, e, por fim, em dois filmes. Eu nunca tive nenhum contato com qualquer adaptação de Battle Royale, entretanto sei a premissa, crianças se matando em programa sancionado pelo governo. Enquanto se parece bastante com o plot de Jogos Vorazes, não é como se isso fosse a história mais original do mundo. De qualquer forma, como nunca li, irei me abster de tais comentários. Também nunca vi a adaptação em filme deste livro.
Outro breve parênteses: Qual é dessas séries que possuem o mesmo nome dos seus primeiros livros? Jogos Vorazes da série Jogos Vorazes. Será que a intenção era ser um livro só? Isso não afeta em nada a minha leitura, mas é só uma curiosidade. Tudo bem que na maioria das vezes é só deturpação do próprio fandom, todo aquele lance da maioria das pessoas conhecerem apenas o primeiro livro da série. Os livros de George R. R. Martin são As Crônicas de Gelo e Fogo e não “Game of Thrones”, que é o nome do primeiro livro e do seriado. Assim como o livro Eragon (que é o nome do personagem principal!) não faz parte da série Eragon, ela se chama Ciclo da Herança (porém antes era Trilogia da Herança, até que o autor viu que não daria pra contar tudo em três livros...). A Saga Crepúsculo realmente tem esse nome ou é por causa do fandom? Porque aí teríamos Crepúsculo da Saga Crepúsculo. Sem contar os Harry Potters e Ártemis Fowls que preferem só colocar um novo subtítulo. E a saga Duna, também tem esse nome por causa do primeiro livro Duna? (Resenhas do último livro de Eragon e do primeiro Duna a caminho, falando nisso!). Curioso. Enfim, paremos de divagar.
A história se passa em um futuro não muito específico, em Panem, antiga América do Norte, possivelmente apenas Estados Unidos, em um mundo pós-apocalíptico.  Esse assunto não é elaborado, mas o mundo se encontra em tal estado devido a uma série de guerras e desastres naturais. Não é muito explícito, mas Panem é possivelmente a totalidade da espécie humana que resta.
Panem divide-se em 12 Distritos e a Capital, sendo cada distrito responsável pela produção de um bem necessário, com habitantes vivendo na miséria e na fome e a Capital é onde fica a elite da sociedade e o regime totalitário comandado pelo Presidente Snow. Há cerca de 80 anos, talvez, também existia um Distrito 13 (que me faz pensar se é baseado nas treze colônias americanas ou só coincidência) que tentou se rebelar contra a Capital e, basicamente, foi completamente destruído. Como aviso para os outros distritos, Panem implantou os Jogos Vorazes, onde todo ano, um menino e uma menina entre 12 e 18 anos de cada distrito são sorteados e enviados para uma arena, que muda anualmente, onde todas os 24 jovens devem se matar até sobrar só um.
A história passa-se no 74ª Jogo Voraz, também o primeiro ano em que Pram, irmã mais nova de Katniss, irá participar do sorteio. Elas moram no 12º Distrito, responsável pela extração de carvão para a Capital. Pram é obviamente a sorteada e, devido a existência de uma regra que permite que algum jovem seja voluntário, Katniss se oferece para ir no lugar dela. O menino escolhido é Peeta, que Katniss conhece desde sua infância mas nunca realmente teve contato. Todos os escolhidos são dados a um mentor, um dos vencedores passados dos Jogos Vorazes que seja do seu distrito. No caso, Katniss e Peeta tem o alcoólatra Haymitch como seu mentor, o último e único vencedor dos Jogos Vorazes que seja do Distrito 12.
Um ponto forte do livro ou que pelo menos me agrada bastante é o tema. O nome já diz, Jogos Vorazes. O sorteio é feito no chamado Dia da Colheita. Cada participante tem o seu nome apenas uma vez na lista de sorteio, mas a cada ano que passa, seus nomes são acrescentados mais vezes. E também existe a opção de ganhar um saco de comida em troca de ter seu nome listado mais uma vez. Panem, o país, significa pão em latim. Todo esse tema de fome, também enfatizado bastante nos jogos em si, em que os maiores problemas dos participantes na arena é achar o que comer ou beber e boa parte das estratégias utilizadas se baseia em destruir as reservas de comida dos outros participantes ajuda a demonstrar como a Capital possui controle sobre os distritos: Deixando seus habitantes famintos.
Outra parte interessante da história é antes de entrarem nos jogos em si (que só começam lá pela metade do livro). Katniss recebe de uma amiga um broche de um Tordo, um pássario que, por um motivo ou outro que não me alongarei, representa uma das maiores falhas da Capital. Após irem embora do Distrito 12 Katniss e Peeta passam por uma transformação tanto de roupas como de maquiagem para ficarem apresentáveis para a Capital, onde fazem entrevistas e, em geral, vivem um breve período como celebridades. Todo esse teatro do absurdo, onde os habitantes da Capital (e até alguns dos participantes, que desde cedo treinaram para os Jogos Vorazes, os chamados Carreiristas) acompanham e vibram com toda a futilidade de um reality show. Mas nesse reality show, 23 crianças serão mortas de maneira horrível.
Já os jogos em si... Não sei. São muitos personagens e você sabe quais serão mais importantes porque o livro dá nomes pra eles. Um ou outro sem nome (ou sem apelido) pode até fazer uma gracinha, mas no máximo será só um plot point pra história seguir outros rumos. A própria narrativa também, pelo ponto de vista de Katniss, também não me agradou muito, porém mais devido ao estilo do que ao conteúdo. Os detalhes do que acontecem nos jogos são bem fortes e até um pouco inesperados para um livro Young Adult.
Agora o problema principal do livro, em minha opinião, e talvez quem esteja lendo possa querer parar de ler pois trata-se de pequenos spoilers de antes da metade do livro.
Os Jogos possuem um sistema de patrocinadores. Se você tem dinheiro, ou seja, é da Capital, e gosta de um participante. Você paga uma quantia absurda de dinheiro para os criadores dos jogos darem algo pro participante: Comida, água, etc. A maneira de atrair patrocinadores bolada por Haymitch é Peeta é “fingir” que Peeta é apaixonado por Katniss, criando basicamente uma novela para o povo da Capital torcer por eles e ajuda-los ativamente. O problema é que Peeta é claramente apaixonado por ela desde criança e Katniss não sabe e boa parte do drama do livro se baseia nisso. O que me parece... fora de lugar? Tudo bem, são adolescentes, mas é um jogo onde inevitavelmente um deve matar o outro.
Também achei mal executada a maneira como Katniss vai para os Jogos. Ok, ela vai no lugar da irmã mas é difícil simpatizar com isso. Katniss e Pram mal dialogam no pouco tempo de atenção que o livro gasta em Pram. Temos que supor que há uma linda relação entre irmãs ali, o que é bem estranho, vide que o livro gasta um pouco do seu tempo para explicar a conturbada relação que Katniss tem com sua mãe, desde a morte do seu pai. Ah é, Katniss é órfã de pai. Claro que ela é órfã.
Tenho certa suspeita de que o que enfraquece bastante o livro é a quantidade de ‘clichês’. Suzanne Collins se dá ao trabalho de dar uma cara nova pra todos eles, entretanto eles ainda estão ali. O menino que é apaixonado pela principal desde infância, a irmã pura, a principal órfã, o mentor bêbado de passado obscuro, o ditador malvado. Não me considero uma pessoa de muitas leituras, porém quando avancei um pouco na história do livro, já dava pra ver quem morreria pra motivar Katniss a participar ativamente dos jogos, todas as razões pros Plot Twists durante a competição, inclusive o último e o que parecia ter sido criado para ser o mais chocante entre eles.
Por fim, Jogos Vorazes (da série Jogos Vorazes!) é um livro razoavelmente bom para gastar seu tempo em um dia chuvoso ou numa viagem longa de ônibus. Não espere grandes revelações e não se incomode com romance num meio de assassinatos em massa e tudo ficará bem.