Nome original: Mort.
Tradução: O aprendiz da Morte.
Autor: Terry Pratchett
Lançamento: Original: 1987.
Em português: 2002.
Páginas: Versão comemorativa de 25 anos (lida): 243.
Versão em português: 256.
À esquerda, a capa original (traduzida) e à direita, a versão comemorativa de 25 anos da série que foi lida por mim
[ATENÇÃO: O LIVRO FOI LIDO
EM SEU IDIOMA ORIGINAL, INGLÊS, PORTANTO MUITOS TERMOS UTILIZADOS PODEM
NÃO SER EXATOS, CONSEQUENTES DE UMA TRADUÇÃO LIVRE FEITA POR MIM.]
Mort é o quarto livro da série
Discworld, escrita por Terry Pratchett, marcando o início de uma série de
livros que possuem como personagem principal a Morte que, curiosamente, teve
aparições e papel relativamente relevantes nos livros anteriores da série.
Antes
de qualquer coisa, no último parágrafo, chamei a personagem de “a Morte”,
porém, no inglês, trata-se de “Death”, gênero neutro. Eu imagino que muitos de
vocês saibam disso, mas é válido ressaltar que o livro trata-a como homem na
maior parte do tempo. Então não estranhem frases que misturam os gêneros.
E no resto da resenha usarei “Death” para não confundir com Mort.
O
plot começa com Mort, filho mais novo de uma família de destiladores de vinho
que simplesmente não leva jeito para a horticultura. Numa tentativa de dar um
rumo ao filho, o pai de Mort o leva a uma feira na praça da cidade, onde
garotos com a intenção de tornarem-se aprendizes em alguma profissão eram
avaliados pelos profissionais da cidade, que decidiam se treinaria algum deles
em seu ofício.
Exatamente
à meia-noite, horário do fim da feira e horas depois do penúltimo garoto ter
sido escolhido, Mort e seu pai ainda estão sozinhos na praça, até a chegada de
uma figura alta, esquelética e negra sem seu cavalo. Death quer um aprendiz.
Os
seres humanos normais são incapazes de ver a Morte. Não se trata de magia nem
nada do tipo, elas apenas negam sua existência, fazendo com que o pai de Mort
aceite a proposta de Death, acreditando que seu filho será um empreendedor.
E assim começa a saga de Mort como
aprendiz de Death e morador de seu “reino”, aprendendo como as vidas da cada
pessoa são medidas por ampulhetas, conhece sua filha Ysabell , seu servente
Albert e o cavalo, Binky. Aos poucos, Mort é levado junto quando Death tem que
fazer seus serviços e, no seu primeiro dia sozinho em um trabalho, ele comete
um erro. Mort sente compaixão.
Como
típico da série, Mort repete a
façanha de seu antecessor e trata de um assunto sério, a morte, de maneira
diferente, misturando a seriedade e talvez até certa frieza com humor mordaz e,
às vezes, repetindo minha resenha anterior, bobo. A visão que o livro tem sobre
morrer (“Não há justiça, apenas eu.” – Death) parece também refletir
diretamente a do autor, vide que ano passado começou um processo de morte assistida ao
ser diagnosticado com Alzheimer’s.
Quanto
aos personagens, esse é o meu livro favorito da série, pois Death é o mais interessante.
Enquanto de um lado não é esclarecida a diferença de caracterização dele do
primeiro livro em comparação a agora (mesmo estando relativamente implícito que
se tratava de outra entidade se passando por Death e stalkeando o Rincewind.
Diferente do esperado, Death não é um assassino ou tem prazer no que faz, não é
a Dona Morte da Turma da Mônica que acredito nunca tenha aparecido levando a
alma de ninguém e nem é poético como a morte de A Menina Que Roubava Livros.
Death é profissional e sabe que seu trabalho deve ser feito, tem um senso de
humor e até certa piedade dos seres humanos, o que acaba o levando a
conhecê-los mais de perto, nos dias que Mort o ocupa, o que leva a situações
engraçadas e até surreais, praticamente marca registrada da série a esse ponto.
Os
outros personagens, mesmo que em minha opinião não se comparem a Death, o
complementam e são interessantes por si só. Ysabell é filha adotada, mostrando
um lado mais sensível da personificação antropomórfica e um tanto mimada, uma
falha, entretanto, é sua personalidade ser tão radicalmente diferente da sua
pequena aparição em The Light Fantastic.
Albert é o servente e o mais próximo de um amigo que Death possui, além de ter
um passado muito mais importante do que parece e Mort, o aprendiz, é o
resultado de colocar-se um adolescente e, acima de tudo, humano para fazer um
trabalho tão importante onde a única regra é não interferir no destino daqueles
que devem morrer. Além disso, todos esses personagens têm uma evolução incrível
ao longo do livro. Fui reler o começo e mal reconheci as atitudes de Mort,
comparado a como ele é no final.
A
atmosfera do livro é muito boa, Death’s Estate é uma mistura de uma localização
mística, como as ampulhetas e os livros que se escrevem sozinhos para cada
pessoa do Disco, e mundano, como o estábulo para Binky, um cavalo de carne e
osso. Temos novamente a presença da Unseen Academicals e até uma aparição de
outro personagem famoso da série.
O
humor continua o mesmo e ainda me agrada. Como já dito, o livro aproveita e
coloca Death, um personagem fora do mundo e o coloca em situações tipicamente
humanas, há novamente algumas situações de Lampshade Hanging, até por parte do autor e as piadas em
que você precisa de um minuto ou dois ou uma semana para entender totalmente.
Sem
dúvidas, Mort foi o meu livro
favorito da série, talvez por eu ter me afeiçoado a alguns dos personagens
principais desde suas primeiras aparições em livros anteriores, porém também
por mostrar-se o que melhor balanceou seu humor e seriedade, em como fica até
difícil separar os dois em qualquer ponto do livro. Caso a série mantenha esta
qualidade, Discworld pode tornar-se
uma das minhas favoritas, mas por enquanto irei parar de lê-la para dar atenção
a alguns outros livros.