Páginas

sábado, 27 de outubro de 2012

Mort - Terry Pratchett


Detalhes do Livro:
Nome original: Mort.
Tradução: O aprendiz da Morte.
Autor: Terry Pratchett
Lançamento: Original: 1987.
                       Em português: 2002.
 Páginas: Versão comemorativa de 25 anos (lida): 243.
                Versão em português: 256.

À esquerda, a capa original (traduzida) e à direita, a versão comemorativa de 25 anos da série que foi lida por mim




  [ATENÇÃO: O LIVRO FOI LIDO EM SEU IDIOMA ORIGINAL, INGLÊS, PORTANTO MUITOS TERMOS UTILIZADOS PODEM NÃO SER EXATOS, CONSEQUENTES DE UMA TRADUÇÃO LIVRE FEITA POR MIM.]



Mort é o quarto livro da série Discworld, escrita por Terry Pratchett, marcando o início de uma série de livros que possuem como personagem principal a Morte que, curiosamente, teve aparições e papel relativamente relevantes nos livros anteriores da série.
Antes de qualquer coisa, no último parágrafo, chamei a personagem de “a Morte”, porém, no inglês, trata-se de “Death”, gênero neutro. Eu imagino que muitos de vocês saibam disso, mas é válido ressaltar que o livro trata-a como homem na maior parte do tempo. Então não estranhem frases que misturam os gêneros.  E no resto da resenha usarei “Death” para não confundir com Mort.
O plot começa com Mort, filho mais novo de uma família de destiladores de vinho que simplesmente não leva jeito para a horticultura. Numa tentativa de dar um rumo ao filho, o pai de Mort o leva a uma feira na praça da cidade, onde garotos com a intenção de tornarem-se aprendizes em alguma profissão eram avaliados pelos profissionais da cidade, que decidiam se treinaria algum deles em seu ofício.
Exatamente à meia-noite, horário do fim da feira e horas depois do penúltimo garoto ter sido escolhido, Mort e seu pai ainda estão sozinhos na praça, até a chegada de uma figura alta, esquelética e negra sem seu cavalo. Death quer um aprendiz.
Os seres humanos normais são incapazes de ver a Morte. Não se trata de magia nem nada do tipo, elas apenas negam sua existência, fazendo com que o pai de Mort aceite a proposta de Death, acreditando que seu filho será um empreendedor.
          E assim começa a saga de Mort como aprendiz de Death e morador de seu “reino”, aprendendo como as vidas da cada pessoa são medidas por ampulhetas, conhece sua filha Ysabell , seu servente Albert e o cavalo, Binky. Aos poucos, Mort é levado junto quando Death tem que fazer seus serviços e, no seu primeiro dia sozinho em um trabalho, ele comete um erro. Mort sente compaixão.
Como típico da série, Mort repete a façanha de seu antecessor e trata de um assunto sério, a morte, de maneira diferente, misturando a seriedade e talvez até certa frieza com humor mordaz e, às vezes, repetindo minha resenha anterior, bobo. A visão que o livro tem sobre morrer (“Não há justiça, apenas eu.” – Death) parece também refletir diretamente a do autor, vide que ano passado começou um processo de morte assistida ao ser diagnosticado com Alzheimer’s.
Quanto aos personagens, esse é o meu livro favorito da série, pois Death é o mais interessante. Enquanto de um lado não é esclarecida a diferença de caracterização dele do primeiro livro em comparação a agora (mesmo estando relativamente implícito que se tratava de outra entidade se passando por Death e stalkeando o Rincewind. Diferente do esperado, Death não é um assassino ou tem prazer no que faz, não é a Dona Morte da Turma da Mônica que acredito nunca tenha aparecido levando a alma de ninguém e nem é poético como a morte de A Menina Que Roubava Livros. Death é profissional e sabe que seu trabalho deve ser feito, tem um senso de humor e até certa piedade dos seres humanos, o que acaba o levando a conhecê-los mais de perto, nos dias que Mort o ocupa, o que leva a situações engraçadas e até surreais, praticamente marca registrada da série a esse ponto.
Os outros personagens, mesmo que em minha opinião não se comparem a Death, o complementam e são interessantes por si só. Ysabell é filha adotada, mostrando um lado mais sensível da personificação antropomórfica e um tanto mimada, uma falha, entretanto, é sua personalidade ser tão radicalmente diferente da sua pequena aparição em The Light Fantastic. Albert é o servente e o mais próximo de um amigo que Death possui, além de ter um passado muito mais importante do que parece e Mort, o aprendiz, é o resultado de colocar-se um adolescente e, acima de tudo, humano para fazer um trabalho tão importante onde a única regra é não interferir no destino daqueles que devem morrer. Além disso, todos esses personagens têm uma evolução incrível ao longo do livro. Fui reler o começo e mal reconheci as atitudes de Mort, comparado a como ele é no final.
A atmosfera do livro é muito boa, Death’s Estate é uma mistura de uma localização mística, como as ampulhetas e os livros que se escrevem sozinhos para cada pessoa do Disco, e mundano, como o estábulo para Binky, um cavalo de carne e osso. Temos novamente a presença da Unseen Academicals e até uma aparição de outro personagem famoso da série.
O humor continua o mesmo e ainda me agrada. Como já dito, o livro aproveita e coloca Death, um personagem fora do mundo e o coloca em situações tipicamente humanas, há novamente algumas situações de Lampshade Hanging, até por parte do autor e as piadas em que você precisa de um minuto ou dois ou uma semana para entender totalmente.
Sem dúvidas, Mort foi o meu livro favorito da série, talvez por eu ter me afeiçoado a alguns dos personagens principais desde suas primeiras aparições em livros anteriores, porém também por mostrar-se o que melhor balanceou seu humor e seriedade, em como fica até difícil separar os dois em qualquer ponto do livro. Caso a série mantenha esta qualidade, Discworld pode tornar-se uma das minhas favoritas, mas por enquanto irei parar de lê-la para dar atenção a alguns outros livros.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Senhor das Moscas, William Golding


O Senhor das Moscas
Willian Golding


Um grupo de meninos vai parar em uma ilha deserta quando o avião em que estavam é derrubado por uma tempestade. Sem nenhum adulto sobrevivente, esses meninos vão ter que aprender a se virar se quiserem sobreviver.

O plot da história é como qualquer outro plot que trata de naufrágio. Após uma catástrofe, os personagens precisam se acostumar e se organizar para que consiga sobreviver em condições adversas, estabelecer uma rotina, se acostumar com a situação. A primeira etapa, portanto, é estabelecer um líder – o Ralph - e estabelecer regras e prioridades para essa nova situação, sendo que a principal é manter uma fogueira na elevação mais alta da ilha.

Na minha opinião é aí que entra a característica que define toda a história. São crianças.

Crianças, de um modo geral, tiveram muito menos contato com o socialmente adequado em termos de comportamento e moral. Não terminaram de ser moldadas. E, por isso, estão mais próximo do que seria o “verdadeiro” ser humano, mais próximo da essência. Eu sei, papo filosófico demais. Mas essa é a grande questão do livro.

O grupo é composto por crianças que variam dos 6 aos 12 anos. É difícil para Ralph, o líder, manter o foco dessas crianças no que realmente importa, serem resgatados, porque é difícil para ELE PRÓPRIO se lembrar algumas vezes. Gradativamente fica cada vez mais difícil para ele se lembrar do que o torna civilizado.

Para mim, essa perda de civilidade é intensificada por outro personagem, Jack. No início, Jack é apresentado como o líder do coral da escola. Quando Ralph reúne todo o grupo pela primeira vez, Jack já é a figura de líder para alguns sobreviventes e quando não é escolhido líder do grupo todo, fica clara a sua posição de antagonista de Ralph. Apesar disso, os dois mantêm uma relação ligada por traços de amizade por quase todo o livro.

Jack logo demonstra uma compulsão pela caça e, ao contrário de Ralph que constrói abrigos e se preocupa com a fogueira, Jack volta todas as suas energias para a caça de porcos selvagens. Ele possui uma atração pelo sangue, pela morte... um instinto selvagem que o torna assustador. Aos poucos perde sua civilidade até o ponto em que se esconde por trás de uma máscara, uma pintura de guerra e parece que tudo passa a ser permitido.  

Ralph e Jack são opostos. Enquanto Ralph tenta conservar sua razão e sua civilidade, sente saudades de sua vida antes da ilha, Jack se entrega completamente a vida selvagem.

Ambos são líderes de seus respectivos grupos. Ralph, no início, devido ao seu carisma e Jack, no final, devido à segurança que a sua agressividade transmite aos outros quando o medo passa a dominar o grupo. Onde antes Ralph tinha o poder no carisma e na sensatez, Jack passa a ter poder no alimento e na violência.
Porquinho, outro personagem consideravelmente importante é quem mantém a razão ao longo de toda a história. Gordinho, com asma e óculos, ele não tem o carisma necessário para convencer o grupo de suas idéias. Quando Ralph passa a ‘esquecer’, Porquinho é sempre que o lembra do porquê de estarem fazendo algo.

Então...

Eu só consigo pensar que O Senhor das Moscas é um livro angustiante. Eu não diria que é um livro surpreendente, porque tudo o que acontece é muito condizente com o que o autor desenvolve no início. Eu achei que ele foi muito claro e aconteceu exatamente o que eu previa. Não do jeito que eu previa, mas, sim, a idéia principal. Mesmo assim, é um livro que eu não conseguia parar de ler, era como não conseguir desviar o olhar de um acidente prestes a acontecer. É empolgante, envolvente... inquietante.