Nome original: The Colour Of Magic.
Tradução: A Cor da Magia.
Autor: Terry Pratchett
Lançamento: Original: 1983.
Em português: 2001.
Páginas: Versão comemorativa de 25 anos (lida): 210.
Versão em português: 232.
À esquerda, a capa original (traduzida) e à direita, a versão comemorativa de 25 anos da série que foi lida por mim.
[ATENÇÃO: O LIVRO FOI LIDO EM SEU IDIOMA ORIGINAL, INGLÊS, PORTANTO MUITOS TERMOS UTILIZADOS PODEM NÃO SER EXATOS, CONSEQUENTES DE UMA TRADUÇÃO LIVRE FEITA POR MIM.]
The Colour Of
Magic (A Cor da Magia, em tradução livre), primeiro livro do que se tornaria a
série Discworld (contando atualmente com 39 livros, algumas adaptações
cinematográticas e algumas ‘short stories’), publicado em 1983 por Sir Terry
Pratchett trata-se de uma paródia do gênero fantasia, não muito diferente de
como Douglas Adams parodiou a ficção científica.
O mundo é um
grande disco, apoiado em quatro enormes elefantes que, por sua vez,
encontram-se em cima de uma grande tartaruga que anda lentamente pelo espaço,
sem seus habitantes saberem de onde exatamente ela está vindo e para onde
dirige-se. E neste disco encontra-se o típico cenário de fantasia medieval que
estamos familiarizados.
A história se
desenrola quando Rincewind, mago inepto e renegado da universidade de magia por
ter quebrado uma de suas maiores leis, aceita ser o guia turístico de
Twoflower, habitante de um continente longínquo do outro lado do Disco, o
Counterweight Continent (Continente Contapeso, em tradução livre). Twoflower é
sempre acompanhado por Luggage, seu baú de viagens sapiente que o segue onde
quer que ele vá com suas centenas de minúsculas pernas e uma personalidade homicida. Explorando o disco, esses personagens encontram desastre e
situações de vida ou morte onde quer que vão. (Ou será que eles que as levam
consigo?)
Como vocês
devem ter reparado, não existe um plot firmemente construído. A versão que eu
li é dividida em quatro partes (Li na internet que alguns são divididos em
seis, mas posso estar enganado) e cada uma é basicamente uma história por si só.
Toda a exposition necessária para o desenrolar da história está contida em si
mesmo e todas elas possuem início, meio e fim definidos, sendo apenas
conectadas entre si por poucos elementos, como a presença dos deuses. E, claro,
a situação dos personagens.
Tal
forma de construir a narrativa me faz entender que, inicialmente, o plano nunca
foi uma grande série. E sim uma forma de, em um mesmo livro, ter um número de
situações em que se possa parodiar diferentes aspectos do gênero e autores. Um
desses quartos do livro, por exemplo, parodia se não diretamente os trabalhos
de H.P. Lovecraft, pelo menos o gênero de Cosmic Horror. Além disso, também se
zomba da sociedade dentro de seus paralelos. Enfim, há dragões, magos, bárbaros,
heróis, ladrões, políticos e corretores de seguro e todos são igualmente sacaneados
por Sir Terry Pratchett.
Enquanto
que, na minha última resenha, “O Temor do Sábio”, eu reclamei bastante sobre o
fato do livro ser tão episódico, The Colour Of Magic foi uma tentativa
bem-sucedida de uma história basicamente formada por histórias menores. O fato
de muitas vezes ser tão desconexo não prepara o leitor para qual próxima situação
Rincewind e Twoflower se meterão, faz imaginar o que exatamente será motivo de
chacota e o quão anticlimático vai ser o final.
Diferente
do que possa parecer pelos meus parágrafos acima, apesar de tudo, a paródia
nunca é ofensiva. É sempre feita apenas como referência ao trabalho original e é,
de certa forma, afetiva. Apesar de ser uma grande deconstruction do gênero
fantasia, The Colour Of Magic é, e tornou-se com o passar dos anos um dos mais
famosos e clássicos, livros de fantasia.
Por
essas e outras, tenho um pouco de dificuldade em definir como é o humor da série.
Não queria usar este termo, porém diria que é ‘britânico’. Baseando-se bastante
no dualismo entre o absurdo e mágico e o extremamente mundano, o humor aproveita
de todas as ferramentas de um livro para exprimir-se. Há piadas com jogos de
palavras, há descrições mundanamente simples de fenômenos previamente
caracterizados como indescritíveis, há monólogos do autor pouco relevantes ao
assunto que está sendo tratado no livro, há a noção da existência da fourthwall, enfim. Devido a todos estes recursos, repara-se que trata-se de um livro
extremamente complicado de traduzir-se e vender em outros países.
Todavia,
humor é algo extremamente subjetivo e, enquanto particularmente achei genial na
maioria das vezes, uma pessoa menos acostumada pode estranhar esta maneira de
fazer humor. Ou, obviamente, pode simplesmente não gostar. Dificilmente
recomendo livros (e resolvi fazer um blog de resenhas. Ha.) e este seria mais
um deles. Não se enganem, adorei-o e continuarei a explicitar os porquês à
diante, mas por se tratar de algo tão pessoal, fica um pouco complicado.
O
ponto mais forte de toda a narrativa do Sir Terry Pratchett é que, como autor,
ele respeita a inteligência dos seus leitores, algo que senti muita falta nos últimos
livros que li, os que fiz resenha até agora também incluídos.
Em
alguns pontos, ele até superestimou a minha inteligência. Após o término da
leitura, pesquisei e me deparei com um site constando as referências de The
Colour Of Magic e me dei conta do número de outros livros e autores
parafraseados, parodiados, com personagens de mesmo nome, etc ao longo do livro
que eu não havia reparado. Admito que alguns deles não havia nem ouvido falar.
Então,
como achar graça de piadas que são se entendem? Bom, essas referências não constituem
a totalidade do humor do livro e, a cada duas que não são reparadas, existe uma
que você desvenda e sente-se satisfeito por isso. Em qualquer página, o leitor
pode se sentir recompensado, mesmo que isso seja em detrimento do plot.
Como
já mencionado, existem piadas de várias formas. Jogos de palavras, como
Twoflower trabalhar com Inn-Sewer-Ants, pequenos enigmas, como lá no
Counterweight Continent existir a reflected-sound-of-underground-spirits (essa
admito que o livro teve que basicamente me falar o que era.) ou até
conceituais como, novamente, Twoflower ser o típico estereótipo de turista
oriental que temos que sai por aí batendo foto das coisas mais inócuas ,
acredita que entenderão seu idioma se ele fala alto e lentamente e achar que
todos à sua volta são homens de boa fé. A cor da magia, titular do livro,
trata-se da oitava cor, Octarine, a mais bonita e rei de todas as outras, visível
apenas para os magos, indescritível... Mas é apenas um roxo amarelado
esverdeado E isso eu só estou comentando das piadas encontradas nas primeiras páginas.
Li
em alguns lugares e conversei com alguns (um) fãs (fã) da série que um dos
maiores problemas de The Colour Of Magic é sua falta de consistência em
caracterização e elementos da história em relação a outros livros. Por
enquanto, como estou no começo, isso ainda não é verdade, porém resolvi ler
mais alguns livros da série para averiguar.
Por
fim, um livro com pouco plot focado em parodiar, simultaneamente, o gênero de
fantasia dos livros e também elementos da nossa vida cotidiana, The Colour Of
Magic me agradou bastante.