Belas Maldições
Neil Gaiman e Terry Pratchett
O que acontece quando se junta um
autor invariavelmente famoso e adorado
com outro, invariavelmente desconhecido
e venerado?
Um livro invariavelmente muito engraçado.
Não do tipo que te faz gargalhar histericamente
de vez em quando, mas daquele que você lê com
um sorriso nos lábios do início ao fim e que volta e meia faz com que se
receba olhares tortos de pessoas próximas que assistem a disputa do bronze do
tiro com arco. (A Coréia do Sul (?) ganhou, caso alguém se interesse, apesar de
eu estar torcendo bastante para o carinha de óculos do México.)
Bem, eu estou falando de Belas Maldições escrito por Neil Gaiman (o famoso) e Terry
Pratchett (o desconhecido).
Os Autores.
O Neil é responsável por livros
como Stardust, Deuses Americanos, Coraline e pela HQ Sandman e – apesar da
minha recente implicância com ele por causa das postagens e propagandas
sem-graça que ele feito no blog dele– ele sabe, não só escrever bem um livro, mas como criar
uma história. (O meu favorito é Stardust!)
O Sir Terry Pratchett
é um daqueles autores absurdamente
famosos. Mas muito famosos mesmo. (Negrito e itálico, isso que
é enfatizar.) Mas que você nunca ouviu falar dele na sua vida inteira, até que
aconteceu. Seus livros se passam basicamente em um único universo, o Discworld, o que pode parecer falta de
criatividade. Mas eu digo com toda a minha experiência de apenas um livro dele
lido, o que não falta nesse homem é criatividade.
A Sinopse (ou coisas bem-boladas e estrategicamente pensadas para
chamar a sua atenção e te fazer ler esse livro sem parecer tudo muito
intimidante).
O Apocalipse está prestes a acontecer, o Anticristo – a criatura mais poderosa
da Terra e alguém extremamente preocupado com o meio ambiente – está prestes a se manifestar e um anjo e
um demônio não gostam nem um pouco do que isso tudo está prestes resultar.
Aziraphale o anjo e
Crowley o demônio gostam muito deste mundo, aqui eles se sentem
confortáveis e já estão bastante acostumados e, por isso, decidem juntos
impedir que toda essa história desnecessária de guerra entre o céu e o inferno
e, consequentemente, o fim do mundo aconteça conforme planejado pelos seus
Superiores (um caso de insubordinação bíblica), e, para isso, precisam lidar
com a série de inconveniências que aparecem com o tempo como caçadores de
bruxas, bruxas, precipitações climáticas envolvendo peixes e.. lagostas,
desmaterializações e, claro, a maneira como qualquer cd que permaneça dentro do
carro por mais de três dias insiste em se transformar em um cd dessa banda
inglesa bem famosa. Além, claro, de matar o Anticristo. E precisam fazer tudo isso até – como
descrito no livro “As Belas e Precisas
Profecias de Agnes Nutter, Bruxa” – sábado. O próximo sábado.
E claro. Há um grande mal-entendido.
A Opinião.
Eu nunca gostei particularmente
de histórias envolvendo anjos, demônios ou nada remotamente religioso. Mas Belas Maldições vale muito a pena. É um
livro incrivelmente engraçado, com aquele humor que lembra O Guia do Mochileiro das Galáxias, um humor bem britânico. Cheio de
ironias e referências a todas essas maluquices do mundo moderno, a cultura pop
e incoerências bastante humanas.
Como na história um anjo e um
demônio se juntam para impedir o Apocalipse e manter o mundo do jeito que ele
é, há uma série de embates morais entre eles, te fazendo pensar no que seria o
bem e o mal, na necessidade do Apocalipse e toda essa guerra entre o Bem e o Mal. Sobre o que esse plano inefável seria realmente.
Tendo lido livros dos dois
autores, eu consigo ver em todo o livro um pouco do estilo de cada um e, ao
mesmo tempo, ambos estão tão bem costurados que não dá para dizer que parte um
ou outro escreveu, o que eu acho incrível (Enfatizar!
Enfatizar!). E queria muito saber como
foi que eles começaram isso tudo. Eles pensaram na história toda antes de
sentar para escrever ou o destino dos personagens veio conforme as letrinhas
apareceram?
Acima (ou abaixo, dependendo do
referencial) de tudo, o que eu mais gostei foi a maneira como o livro foi
escrito. Eu adoro digressões. Sou uma fã
incondicional de digressões. Eu poderia ser presidente do partido dos
utilizadores de digressões em obras literárias (PUDOL, nosso símbolo é uma
flecha com enfeites mexicanos – sim, eu estava realmente torcendo para ele – e
estaremos concorrendo para a secretaria legislativa da ABL em 2017, contamos
com seu apoio).
Afinal, quem precisa de uma linha contínua de
idéias? Informações aleatórias sobre fatos aleatórios é o que há de melhor!
Enfim, é um livro muito bom que trata de temas um tanto quanto delicados, mas consegue fazer isso com personalidade, humor, ironia e delicadeza. Sem ofender ninguém.
E
aqui tem um link para uma pequena lista
de resoluções de fim de ano do Crowey e do Aziraphale escrito pelos autores. Bem
legal.
E pesquisando no Dicionário
inFormal, descobri que inefável significa “...[aquilo] que não pode ser
expresso verbalmente. Algo de origem divina, dotado de tantos atributos de
perfeição e beleza, que transcende os limites da linguagem humana.” Isso pode ser útil para alguém, algum dia.