Nome original: The Name Of The Wind.
Tradução: O Nome do Vento.
Autor: Patrick Rothfuss.
Lançamento: Original: 2007.
Em português: 2009.
Páginas: Versão "Hardcover" original: 662.
Versão em português: 656.
A capa acima trata-se da versão brasileira. As nos lados, capas alternativas da hardcover original em inglês.
[ATENÇÃO: ESTA “RESENHA” CONTÉM PEQUENOS SPOILERS, COMO NOMES DE
PERSONAGENS E ALGUNS ACONTECIMENTOS FUTUROS NA TRAMA.]
Então, “O Nome
do Vento”. Antes de tudo, alguns esclarecimentos: Quem me indicou esse livro,
vigorosamente, foi a Mariana, co-autora deste blog. Procurei algumas opiniões
na internet, superficialmente, e o que encontrei foi um coletivo ‘fangasmo’ por
parte dos amantes de livros de fantasia. E até dos não-amantes de livros de
fantasia. Aparentemente, o Sr. Patrick Rothfuss havia conseguido fazer sua estréia
como autor com o pé direito. Não precisa dizer que peguei neste livro com as
expectativas lá no alto.
Isto
talvez tenha sido a pior situação que poderia ter ocorrido. “O Nome do Vento” não
é um mau livro, pelo contrário. Porém, não está nem perto daquela obra-prima da
literatura para qual me preparei.
“O
Nome do Vento” começa com Kote, o ruivo e taciturno dono da hospedaria Marco do
Percurso em uma pequena vila no meio do nada. A situação não está nada boa, há
uma guerra ocorrendo, as estradas não estão seguras e temos monstros à solta. E,
obviamente, ele e seu aprendiz, Bast, ajudante na hospedaria, sabem mais sobre
os atuais acontecimentos do que deixam escapar para os outros moradores.
Não
muito tardar, um homem aparece na hospedaria, O Cronista, procurando Kvoethe
(pronúncia “Quouth”.), personagem elevado a níveis mitológicos por seus feitos
incríveis, sendo protagonista de diversas histórias de seus grandes feitos.
Kote,
o dono da hospedaria, é Kvoethe e, após algumas tentativas, é persuadido por
Bast e pelo Cronista a recontar sua história. Ele necessitará de três dias para
contá-la, cada um sendo um livro da trilogia e, pronto, temos aí a Framing
Device para toda a série.
Quanto
à história de Kvoethe, ela pode ser dividida em três partes. Sua infância com a
trupe de artistas dos seus pais, os Edena Ruh. Relatando seu primeiro contato
com um Arcanista (um mago) e seus primeiros ensinamentos nestas artes, por meio
das simpatias. Este período feliz é dramaticamente finalizado quando toda sua
trupe, exceto si mesmo, é morta pelo Chandriano, organização misteriosa
personagem de cantigas infantis, como um bicho-papão, que não possui padrão ou
motivos conhecidos para seus ataques.
Ao
ser o único sobrevivente, Kvoethe vaga até a cidade de Tarbean, onde passa
difíceis anos como mendigo, em situação animalizante.
Por
fim, a terceira parte trata sobre sua chegada a Universidade, que nos apresenta
“o grosso” dos que parecem ser os personagens mais importantes da narrativa e a
localidade central de onde se passará a história. Lá ele faz amigos,
apaixona-se e inicia seu estudo formal de magia.
Pode
parecer que estou contando a trama toda, mas não se assustem, isso tudo está na
sinopse. Por outro lado, estou sim contando tudo, porque até chegar na Universidade,
um bom terço do livro já se passou.
No
geral, este foi meu maior problema com o livro. Ele é grande, mas só o número
de páginas não faz um livro ser automaticamente bom, precisa de conteúdo. E tem
horas com uma incrível escassez de qualquer coisa que pareça ser a história
andando pra frente. Estão vendo o parágrafo que fala do “segundo ato” da história,
da sua vida como mendigo? Eu fiz um bom resumo, vide que nada acontece.
É
extremamente interessante ler esta parte, a escrita do Sr. Rothfuss não deixa a
desejar e fiquei sinceramente angustiado lendo os trechos mais tensos da vida
de Kvoethe como mendigo. Mas, no geral, nada ocorreu, esta parte poderia ter
sido mais rápida. Talvez tenha um ou dois acontecimentos importantes que ainda
não foram utilizados e que o autor esteja guardando pra livros futuros, mas
ainda assim...
A
infância de Kvoethe se passa com a perfeita trupe de artistas Edena Ruh, onde não
há brigas, disputas e todos são felizes e com espírito aventureiro. No início,
interpretei como um simples caso do Kvoethe sendo um Narrador Não-Confiável. Há
um momento memorável em que
Bast comenta que Denna, a amada de Kvoethe que ele conhece a
caminho da universidade, não é tão bela ou perfeita como na descrição. Quanto
aos Edena Ruh, em compensação, todos os outros personagens só sabem elogiar e
falar de sua perfeição como artistas e boa gente. Ironicamente, nenhum
personagem comenta com Kvoethe, quando ele os informa que era da trupe, que ela
foi exterminada enquanto estava na estrada. Mais tarde, no livro, o Chandriano
aniquila um casamento e, no mesmo dia, a 110 quilômetros de
distância, já estão falando disso com Kvoethe.
A
sua chegada na Universidade marca um momento em que a história fica interessante,
nem que seja pelo simples fato de que Kvoethe possui outros personagens para
poder interagir. Logo ao chegar, já ganha uma reputação que podemos ver que
ainda possui nos ‘tempos atuais’, ele consegue entrar com 15 anos na
Universidade, feito não antes realizado.
Vamos
tirar logo uma coisa do caminho: A comparação inevitável da Universidade (de
magia!) com a Escola de Magia, Hogwarts de um tal série chamada Harry Potter
que alguns conhecem. Elas não possuem muitas semelhanças, além da setting de,
bem, magia. O sistema é realmente parecido com de uma Universidade, sendo
dividido em períodos, os alunos escolhendo que disciplinas cursar, se atrelando
a um professor e trabalhando para ele, enfim.
(Um
breve comentário: Grande partes do reviewers morrendo de amores por esse livro
me pareceram querer projetar sua tão amada série Harry Potter (Que, não se
enganem, eu adoro.) nesta trilogia, chamando-a de “Harry Potter para adultos” e
coisas do tipo.)
O
sistema de magias é interessantíssimo e uma das melhores partes do livro é ler
sobre o funcionamento das simpatias, forma mais básica de magia utilizada por
um Arcanista. Mas, diferente do que já vi dizerem por aí, o sistema de Nomeação,
o que dá o nome a série, não é tão original quanto pensam. A Nomeação é o ramo
de magia mais forte, onde, sabido o verdadeiro nome de alguma coisa, é
permitido ao Nomeador o total controle sobre isto. Para citar apenas um (péssimo)
exemplo deste sistema: Eragon. Infelizmente, toda exposition sobre o
funcionamento de magia é de aulas que Kvoethe tem, ou que ele mesmo dá,
tornando o processo um pouco repetitivo.
Além
da setting bem genérica, vamos aos personagens. Primeiramente, Kvoethe, como
devem ter notado, é um gênio. Músico prodígio, Arcanista prodígio, Cientista
prodígio. Em minha opinião, isso foi uma aposta que não vingou. Para
contrabalancear, ele possui um defeito mortal, sua impaciência. De qualquer
forma, ainda é um personagem fraco que, com todos seus atributos, consegue
matar qualquer tipo de tensão dramática que possamos ter em algum momento. Ele
vai conseguir resolver seus problemas em mais um plano genial ou demonstração grandiosa de
poderes. Um ponto bom, ao menos, é que essa parece ser uma história de
vingança. Kvoethe quer informações sobre o Chandriano que matou seus pais, mas
não é fixado nisso e quer ajeitar sua vida primeiro, lutando contra sua eterna
pobreza e se mantendo na Universidade. Ah, quase todas as mulheres que aparecem
são jovens adultas que tem algum tipo de atração por ele também.
De
resto, os personagens são bem uni-dimensionais: Simmon é inocente e energético.
Wilen é fechadão e gosta de beber. Denna é misteriosa (Para ser honesto com o
Sr. Rothfuss, ele parece estar guardando algo pra ela.). Elodin é o típico
mentor louco que futuramente com certeza vai se mostrar mais sábio e são do que
parece, apenas extravagante. Ambrose, rival de Kvoethe, é só mais um elitista arrogante. Lorren é o bibliotecário que preza seus livros acima de tudo. Homme é
o professor que não admite ver um aluno brilhante, Feila é peituda e por aí
vai.
Ainda
nos personagens, minha maior decepção com foi o Chandriano. Temos grandes
expectativas criadas, na forma das tais cantigas infantis, falando sobre o
Chandriano e descobrimos que eles estão fortemente enraizados na cultura e nos
mitos do passado. Todavia, quando aparecem, vemos só mais um típico assassino
sanguinário e seu chefe, de roupa e capuz preto e, por dentro da roupa, uma
sombra que fala em itálico e exige que seus subordinados o chamem de ‘Lord
Haliax’. Mais um pouco e ele flutuaria seu subordinado no ar com seus poderes
Sith resmungando: “You Have Failed Me”.
Por
fim, temos a falta de final do livro. Nas últimas páginas, entra numa tangente
sobre um dragão drogado e é isso. Acabou. A história de Kvoethe é interrompida
e temos que esperar o próximo. Sim, sei que é uma série, mas tenho essa ideia
tola que um livro tem que ter início, meio e fim. Caso seja uma série, deixa
alguns hooks pros próximos e só.
Já
estou com o segundo livro, “O Temor do Sábio” em mãos e pretendo lê-lo, dando
uma outra chance ao Sr. Rothfuss, ver se tem alguns erros corrigidos ou se ele
irá queimar minha língua mostrando que os personagens são mais interessantes do
que pareciam, que Kvoethe é falível ou que, pelo menos, a história vai andar
pra frente.
Ah,
e só peço desculpas pelo tamanho dessa ‘resenha’ que mais parece um longo relatório
bitching sobre o livro, mas só queria escrever um contra-ponto pra tantos e
tantos elogios que estão aí na internet. Prometo fazer algo mais curto depois,
haha.
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