Páginas

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Heat Wave, Richard Castle



Heat Wave
Richard Castle

Esse é um livro muito bom! Mas é melhor um pouco de contexto antes..


Richard Castle não é um escritor, bem, não de verdade. Ele é o personagem principal da série da ABC Castle. Nessa série Castle é um escritor (interpretado pelo Nathan Fillion) que, por ser amigo do prefeito, consegue se tornar “acompanhante” de uma detetive da polícia de Nova York (Kate Beckett, interpretada pela Stana Katic) para fazer pesquisa para o seu próximo livro. No final da primeira temporada/início da segunda, Castle lança o primeiro livro da série, Heat Wave. A ABC, então, teve a brilhante ideia de produzir o livro na vida real para os fãs da série. E voilá, surge o livro.


Primeiro, é um livro de mistério. Para qualquer um que não tenha assistido a série, é só mais um livro policial regular. O plot da história é: Homem rico é jogado de seu apartamento no sexto andar, mais um caso para a Detetive Nikki Heat e o jornalista Jameson Rook. Aparentemente, nem um pouco criativo, né?


Mas, então, a grande beleza do livro é para os fãs da série. Para quem assistiu a série, algumas situações do livro são muito claramente inspiradas no relacionamento Castle-Beckett. Os próprios personagens são espelhos dos personagens da delegacia ou da família do Castle, assim como o desenrolar do caso me fez lembrar de vários episódios. Durante a leitura me peguei lembrando da reação da Beckett ao terminar de ler o livro e me deu vontade de reassistir tudo de novo.


É interessante também que nós acabamos conhecendo alguns detalhes do processo de investigação. Na série, por durar apenas 45 minutos, tudo acontece meio rápido, enquanto que no livro, o ritmo é outro. A passagem dos dias e o nível de tensão que um caso não-solucionado por muito tempo traz.


Então, para os fãs, a beleza está no cuidado que os ‘produtores’ desse livro tiveram com os detalhes como a página em que uma determinada cena acontece, a biografia fictícia do Castle no final ou o comentário do James Patterson na capa. Esse tipo de cuidado com detalhes, aliás, é uma marca-registrada da série. Cheia de referência a cultura pop e com milhões de piadinhas internas. Esse tipo de trabalho dá vontade de ler mesmo que não seja o melhor livro policial de todos os tempos. As vezes, nós, fãs, só queremos um pouco de cuidado.


Heat Wave é exatamente como eu esperava que fosse um livro escrito por Richard Castle, cheio de mistério, reviravoltas, humor e pequenas doses de cenas picantes. Atingiu todas as expectativas.
Para os não-fãs de Castle, acredito que Heat Wave é uma ótima história policial. O mistério é mantido até o final e um milhão de suspeitos possíveis passam pela sua cabeça. Apesar de todos os livros da Agatha Christie que li na minha vida, eu só descobri o assassino quando a cena da revelação foi montada. Há humor, há os conflitos internos da personagem principal, romance..


Nikki Heat Novels:
  • Naked Heat
  • Heat Rises
  • Frozen Heat


Revisado, comentado e emprestado por Guilherme Rabelo.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Cartas na Rua - Charles Bukowski

Cartas na Rua
Charles Bukowski


Charles Bukowski se tornou um nome conhecido por mim ao longo desse ano, me enveredando pelos caminhos obscuros e tortuosos da literatura considerada mais alternativa (aff!), Bukowski era um nome recorrente e, num arrombo de consumismo pocketiano, junto com outros livros da LP&M acabei comprando Cartas na Rua, sem saber direito da história, sem conhecer direito o autor e sem nunca ter lido uma resenha.


É um livro curto e rápido. Foram 185 páginas (relembrando, pocket book) em, sei lá, quatro, cinco horas?


O livro começa com Henry Chinaski, um grande beberrão, que se candidata a vaga de carteiro temporário. E é isso, ao longo das páginas Charles Bukowski conta a vida de um cidadão ordinário, pobre, com um tipo de sub-vida, onde o trabalho permite a sua sobrevivência entre álcool, mulheres e apostas. Ao longo dos anos, Henry trabalha como carteiro temporário, tendo que aguentar as situações mais bizarras e caricatas; passa por marido sustentado por família rica da esposa e termina, de novo, na agência dos Correios dos Estados Unidos, inclinado em cima de uma mesa separando correspondências por código postal.


Não só porque a história é contada em primeira pessoa, mas conhecendo um pouco a fama de beberrão do autor, percebe-se de primeira que este primeiro romance que Henry é o alter-ego de Bukowski (que mais tarde descobri, também trabalhou para os Correios). Num primeiro momento eu fiquei me perguntando o que – pelos gnomos azuis guardiões da natureza – ele queria com esse livro. Assim, é ótimo para apresentar seu estilo.. sem censura nos palavrões, sexo e bebida. Os porres como eles foram, o sexo como ele foi... o que não deixa de ser renovador para alguém que não está acostumada com esse tipo de literatura. Mas, ainda assim, o que ele queria?


E foi só um par de horas depois, pensando no assunto para escrever essa resenha, foi que encontrei a resposta. Ou, pelo menos, achei a minha resposta. E é uma resposta merecedora de uns bons tapas na testa de tão óbvia que era. Há toda uma crítica ao longo do livro ao tipo de sub-trabalho que as pessoas são obrigadas a suportar, um trabalho que só gera infelicidade, agravada por supervisores/gerentes/superiores que se sentem satisfeitos em desempenhar esse papel contraditório, visto que, já estiveram no lugar de tais trabalhadores. Um tipo de trabalho com 12 horas de duração, onde exigências impossíveis são feitas e que consome toda sua energia, sua alma... te transformando em um fantasma, um pálido reflexo de vida.


É um livro que me fez pensar, tanto para entender o que ele queria falar, como depois. Traz um pouco daquela desesperança que se tem quando se desiste de nadar contra a corrente, quando se começa a aceitar coisas porque é do jeito que é. Mas é uma coisa boa, eu acho. Porque, de certa forma, chama a sua atenção para isso e, quando acontecer na vida real, você já está mais atento para agir de acordo quando essa sensação bater.


Uma boa leitura para o primeiro dia do ano. o/


domingo, 23 de dezembro de 2012

Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo - David Foster Wallace


Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe de Tudo
David Foster Wallace


Qualquer um diria que livros de não-ficção não são o meu tipo de livro e eu até poderia concordar. Os poucos que tenho ou são biografias de tenistas/músicos ou falam sobre coisas legais de ciência. Mas, então, como foi que eu cheguei a um livro de ensaios jornalístico-literários de um escritor de ficção que pela capa parece uma estrela de rock cheia de atitude e se suicidou em 2008?

Pelo Youtube.

Eu acompanho dezenas de canais literários, muitos mesmo. Em um deles, a menina disse que estava muito interessada em ler Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio que Longe de Tudo (para não ficar cansativo, vamos chamá-lo de Fred) e me peguei pensando no que tinha demais no livro para que ela ficasse tão animada com ele? Além do título extremamente legal, é claro.
Fui ler a sinopse e...
Será aceitável mergulhar uma lagosta viva numa panela de água fervente para saciar nossos desejos gastronômicos? O que a experiência de ser “mimado até a morte” num cruzeiro pelo Caribe revela sobre a natureza humana e a maneira como vivemos hoje? O que há de sublime nas raquetadas de Roger Federer e engraçado nas narrativas sufoc....”
PERAÍ, eu li Roger Federer? Roger Federer?

Acho que todo mundo que me conhece sabe que eu adoro tênis, gosto muito, muito mesmo. Acho que é um esporte fantástico, onde físico e mental precisam estar alinhados para se vencer um campeonato. Um esporte solitário que testa todos os seus limites e que vencer ou perder pode, normalmente, ser reduzido a alguns pontos cruciais ao longo do jogo. E todo mundo sabe também que eu sou fã do Roger Federer. Foi com ele que eu comecei a assistir tênis, no ano de 2009. O ano em que ninguém mais acreditava nele, no ano em que no início ele estava muito velho, muito lento, acabado (snif)... e acabou sendo um ano espetacular na carreira deles. O ano em que ele chorou na frente de milhões de pessoas porque ele não estava conseguindo jogar como ele queria e isso o estava matando (snif)².

Pois bem, melhor eu parar de falar de tênis aqui. Quando eu vi que tinha uma crônica sobre o Federer em Fred, eu imediatamente fui parar na ponte aérea Submarino-Saraiva e, por pouco, quase cedi a tentação.

Graças a um pai zeloso e preocupado com os presentes de Natal da filha, hoje eu tenho em mãos o meu próprio Fred.

Voltando a estrutura do livro. Em Fred há 6 ensaios, testemunhas das incursões do David Foster Wallace no mundo do jornalismo. O mais interessante era que ele não era jornalista e, muitas vezes, tais ensaios fariam jornalistas ortodoxos se revirarem em suas escrivaninhas. A maneira de escrever de Wallace é íntima (se essa for a palavra correta). A sua voz me acompanhou durante toda a leitura, a voz de alguém engraçado, a voz de alguém acessível e bastante observador. Um humor sem pretensão de fazer rir, um humor que está ali porque é onde deveria estar. Muitas vezes durante a leitura tive que reler um parágrafo, uma frase.

Uma característica recorrente ao longo do livro é a maneira como David Foster Wallace começa com um ensaio sobre uma situação aparentemente normal, como uma visita a Feira Estadual do Illinois ou a Feira da Lagosta do Maine, e nos leva a uma análise profunda sobre a bovinização do indíviduo, o habitante do Meio-Oeste americano, a validade de submeter animais a certas situações porque eu quero ter uma experiência gastronômica notável (esse foi o ensaio mais pertubador, de longe) e sobre os limites do corpo humano.

Entre todos os contos, meus favoritos foram Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio Que Longe Tudo, Federer Como Experiência Religiosa e  Uma Coisa Surpreendentemente Divertida Que Eu Nunca Mais Vou Fazer. Pode parecer pretensioso, mas me vi em muitos dos seus comentários sobre o tempo que passou em um cruzeiro de luxo pelo Caribe Ocidental (?).

Achei fascinante o poder de observação do DFW, ele superanalizava as situações ao seu redor de uma maneira que não soava forçada, chata. Soava sincera. Seus questionamentos me pareciam uma curiosidade honesta e não uma vontade de parecer mais profundo e cult do que realmente era. Até suas palavras difíceis e suas notas de rodapé quilométricas me pareceram naturais.

Fred é o segundo livro do David Foster Wallace traduzido para o português pela Companhia das Letras, o primeiro é Breves Entrevistas com Homens Hediondos e pelo o que eu entendi ambos fazem parte de um projeto da editora para familiarizar os leitores brasileiros a fim de lançar sua obra mais famosa e ‘difícil’ (?), Infinite Jest. Eu irei atrás desses outros livros com certeza!
Recomendo!

sábado, 27 de outubro de 2012

Mort - Terry Pratchett


Detalhes do Livro:
Nome original: Mort.
Tradução: O aprendiz da Morte.
Autor: Terry Pratchett
Lançamento: Original: 1987.
                       Em português: 2002.
 Páginas: Versão comemorativa de 25 anos (lida): 243.
                Versão em português: 256.

À esquerda, a capa original (traduzida) e à direita, a versão comemorativa de 25 anos da série que foi lida por mim




  [ATENÇÃO: O LIVRO FOI LIDO EM SEU IDIOMA ORIGINAL, INGLÊS, PORTANTO MUITOS TERMOS UTILIZADOS PODEM NÃO SER EXATOS, CONSEQUENTES DE UMA TRADUÇÃO LIVRE FEITA POR MIM.]



Mort é o quarto livro da série Discworld, escrita por Terry Pratchett, marcando o início de uma série de livros que possuem como personagem principal a Morte que, curiosamente, teve aparições e papel relativamente relevantes nos livros anteriores da série.
Antes de qualquer coisa, no último parágrafo, chamei a personagem de “a Morte”, porém, no inglês, trata-se de “Death”, gênero neutro. Eu imagino que muitos de vocês saibam disso, mas é válido ressaltar que o livro trata-a como homem na maior parte do tempo. Então não estranhem frases que misturam os gêneros.  E no resto da resenha usarei “Death” para não confundir com Mort.
O plot começa com Mort, filho mais novo de uma família de destiladores de vinho que simplesmente não leva jeito para a horticultura. Numa tentativa de dar um rumo ao filho, o pai de Mort o leva a uma feira na praça da cidade, onde garotos com a intenção de tornarem-se aprendizes em alguma profissão eram avaliados pelos profissionais da cidade, que decidiam se treinaria algum deles em seu ofício.
Exatamente à meia-noite, horário do fim da feira e horas depois do penúltimo garoto ter sido escolhido, Mort e seu pai ainda estão sozinhos na praça, até a chegada de uma figura alta, esquelética e negra sem seu cavalo. Death quer um aprendiz.
Os seres humanos normais são incapazes de ver a Morte. Não se trata de magia nem nada do tipo, elas apenas negam sua existência, fazendo com que o pai de Mort aceite a proposta de Death, acreditando que seu filho será um empreendedor.
          E assim começa a saga de Mort como aprendiz de Death e morador de seu “reino”, aprendendo como as vidas da cada pessoa são medidas por ampulhetas, conhece sua filha Ysabell , seu servente Albert e o cavalo, Binky. Aos poucos, Mort é levado junto quando Death tem que fazer seus serviços e, no seu primeiro dia sozinho em um trabalho, ele comete um erro. Mort sente compaixão.
Como típico da série, Mort repete a façanha de seu antecessor e trata de um assunto sério, a morte, de maneira diferente, misturando a seriedade e talvez até certa frieza com humor mordaz e, às vezes, repetindo minha resenha anterior, bobo. A visão que o livro tem sobre morrer (“Não há justiça, apenas eu.” – Death) parece também refletir diretamente a do autor, vide que ano passado começou um processo de morte assistida ao ser diagnosticado com Alzheimer’s.
Quanto aos personagens, esse é o meu livro favorito da série, pois Death é o mais interessante. Enquanto de um lado não é esclarecida a diferença de caracterização dele do primeiro livro em comparação a agora (mesmo estando relativamente implícito que se tratava de outra entidade se passando por Death e stalkeando o Rincewind. Diferente do esperado, Death não é um assassino ou tem prazer no que faz, não é a Dona Morte da Turma da Mônica que acredito nunca tenha aparecido levando a alma de ninguém e nem é poético como a morte de A Menina Que Roubava Livros. Death é profissional e sabe que seu trabalho deve ser feito, tem um senso de humor e até certa piedade dos seres humanos, o que acaba o levando a conhecê-los mais de perto, nos dias que Mort o ocupa, o que leva a situações engraçadas e até surreais, praticamente marca registrada da série a esse ponto.
Os outros personagens, mesmo que em minha opinião não se comparem a Death, o complementam e são interessantes por si só. Ysabell é filha adotada, mostrando um lado mais sensível da personificação antropomórfica e um tanto mimada, uma falha, entretanto, é sua personalidade ser tão radicalmente diferente da sua pequena aparição em The Light Fantastic. Albert é o servente e o mais próximo de um amigo que Death possui, além de ter um passado muito mais importante do que parece e Mort, o aprendiz, é o resultado de colocar-se um adolescente e, acima de tudo, humano para fazer um trabalho tão importante onde a única regra é não interferir no destino daqueles que devem morrer. Além disso, todos esses personagens têm uma evolução incrível ao longo do livro. Fui reler o começo e mal reconheci as atitudes de Mort, comparado a como ele é no final.
A atmosfera do livro é muito boa, Death’s Estate é uma mistura de uma localização mística, como as ampulhetas e os livros que se escrevem sozinhos para cada pessoa do Disco, e mundano, como o estábulo para Binky, um cavalo de carne e osso. Temos novamente a presença da Unseen Academicals e até uma aparição de outro personagem famoso da série.
O humor continua o mesmo e ainda me agrada. Como já dito, o livro aproveita e coloca Death, um personagem fora do mundo e o coloca em situações tipicamente humanas, há novamente algumas situações de Lampshade Hanging, até por parte do autor e as piadas em que você precisa de um minuto ou dois ou uma semana para entender totalmente.
Sem dúvidas, Mort foi o meu livro favorito da série, talvez por eu ter me afeiçoado a alguns dos personagens principais desde suas primeiras aparições em livros anteriores, porém também por mostrar-se o que melhor balanceou seu humor e seriedade, em como fica até difícil separar os dois em qualquer ponto do livro. Caso a série mantenha esta qualidade, Discworld pode tornar-se uma das minhas favoritas, mas por enquanto irei parar de lê-la para dar atenção a alguns outros livros.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Senhor das Moscas, William Golding


O Senhor das Moscas
Willian Golding


Um grupo de meninos vai parar em uma ilha deserta quando o avião em que estavam é derrubado por uma tempestade. Sem nenhum adulto sobrevivente, esses meninos vão ter que aprender a se virar se quiserem sobreviver.

O plot da história é como qualquer outro plot que trata de naufrágio. Após uma catástrofe, os personagens precisam se acostumar e se organizar para que consiga sobreviver em condições adversas, estabelecer uma rotina, se acostumar com a situação. A primeira etapa, portanto, é estabelecer um líder – o Ralph - e estabelecer regras e prioridades para essa nova situação, sendo que a principal é manter uma fogueira na elevação mais alta da ilha.

Na minha opinião é aí que entra a característica que define toda a história. São crianças.

Crianças, de um modo geral, tiveram muito menos contato com o socialmente adequado em termos de comportamento e moral. Não terminaram de ser moldadas. E, por isso, estão mais próximo do que seria o “verdadeiro” ser humano, mais próximo da essência. Eu sei, papo filosófico demais. Mas essa é a grande questão do livro.

O grupo é composto por crianças que variam dos 6 aos 12 anos. É difícil para Ralph, o líder, manter o foco dessas crianças no que realmente importa, serem resgatados, porque é difícil para ELE PRÓPRIO se lembrar algumas vezes. Gradativamente fica cada vez mais difícil para ele se lembrar do que o torna civilizado.

Para mim, essa perda de civilidade é intensificada por outro personagem, Jack. No início, Jack é apresentado como o líder do coral da escola. Quando Ralph reúne todo o grupo pela primeira vez, Jack já é a figura de líder para alguns sobreviventes e quando não é escolhido líder do grupo todo, fica clara a sua posição de antagonista de Ralph. Apesar disso, os dois mantêm uma relação ligada por traços de amizade por quase todo o livro.

Jack logo demonstra uma compulsão pela caça e, ao contrário de Ralph que constrói abrigos e se preocupa com a fogueira, Jack volta todas as suas energias para a caça de porcos selvagens. Ele possui uma atração pelo sangue, pela morte... um instinto selvagem que o torna assustador. Aos poucos perde sua civilidade até o ponto em que se esconde por trás de uma máscara, uma pintura de guerra e parece que tudo passa a ser permitido.  

Ralph e Jack são opostos. Enquanto Ralph tenta conservar sua razão e sua civilidade, sente saudades de sua vida antes da ilha, Jack se entrega completamente a vida selvagem.

Ambos são líderes de seus respectivos grupos. Ralph, no início, devido ao seu carisma e Jack, no final, devido à segurança que a sua agressividade transmite aos outros quando o medo passa a dominar o grupo. Onde antes Ralph tinha o poder no carisma e na sensatez, Jack passa a ter poder no alimento e na violência.
Porquinho, outro personagem consideravelmente importante é quem mantém a razão ao longo de toda a história. Gordinho, com asma e óculos, ele não tem o carisma necessário para convencer o grupo de suas idéias. Quando Ralph passa a ‘esquecer’, Porquinho é sempre que o lembra do porquê de estarem fazendo algo.

Então...

Eu só consigo pensar que O Senhor das Moscas é um livro angustiante. Eu não diria que é um livro surpreendente, porque tudo o que acontece é muito condizente com o que o autor desenvolve no início. Eu achei que ele foi muito claro e aconteceu exatamente o que eu previa. Não do jeito que eu previa, mas, sim, a idéia principal. Mesmo assim, é um livro que eu não conseguia parar de ler, era como não conseguir desviar o olhar de um acidente prestes a acontecer. É empolgante, envolvente... inquietante.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça & Os Fantasmas de Canterville


Hoje eu não vou falar de um livro específico, mas de dois, porque eles são tão curtinhos que eu acho que quase podem ser considerados contos. São eles A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Os Fantasmas de Canterville. Comprei ambos numa daquelas promoções malucas onde todos os livros saem por R$10,00 e que não pertencem mais a minha vida.




A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça
Washington Irving

Acredito que todo mundo tenha pensado imediatamente no filme com o Johnny Depp, dirigido pelo Tim Burton (surpresa!) quando leu o título. E, bem, nós temos um cavalo cavaleiro sem cabeça, uma cidade chamada Sleepy Hollow e um personagem chamado Ichabold Crane. E isso é o mais próximo que o filme chega do livro.

Na história de Washington Irving, o protagonista Ichabold é o professor da fantasmagórica cidade de Sleepy Hollow e se apaixona por Katrina, filha de um próspero fazendeiro e decide conquistá-la. Até que, após um jantar na casa dos pais de Katrina, Ichabold Crane é atacado pela figura do Cavaleiro Sem Cabeça, uma lenda local passada através de gerações.

Eu achei a história incrivelmente... engraçada. Sim, pois é. Eu esperava algo totalmente parecido com o filme, mas não. É uma história completamente diferente. O escritor é bastante irônico ao falar sobre as características dos moradores do interior, suas superstições e até mesmo ao descrever o personagem principal. Ele consegue criar uma atmosfera bastante aconchegante e misteriosa. Gostei muito!





Os Fantasmas de Canterville
Oscar Wilde

Por 300 anos um fantasma assombra a Reserva de Caça Canterville. O atual Lorde Canterville não tem interesse em viver lá desde que sua tia-avó, a Duquesa de Bolton, teve um ataque de pânico quando as mãos de um esqueleto pousaram sobre ela pouco antes do jantar e, por isso, vende sua propriedade para um diplomata americano recém vindo do novo continente, o Sr. Otis. E é aí que a vida (ou seria morte?) do Fantasma de Canterville muda. Aparentemente, a família Otis não se deixa intimidar por sua presença fantasmagórica.

Eu tinha certo preconceito contra Oscar Wilde. Essa Mariana, aos 14 anos de idade, ficou um pouco traumatizada quando tentou ler O Retrato de Dorian Gray pela primeira vez na vida. Então, para mim, Oscar Wilde sempre foi o escritor mais chato de todos. Ele era o meu modelo de chatice. Toda vez que alguém me perguntava: “Não é possível,  você gosta de ler qualquer coisa?”, eu sempre respondia: “Não, eu odeio Oscar Wilde.” Eu era feliz odiando-o e proclamando sua chatice ao mundo.
Mas, aí, eu li esse livro.

 E é MUITO LEGAL. É fantástico. É engraçado, é irônico, é crítico. Pelo o que eu li sobre o Oscar Wilde depois de ter lido esse livro, uma característica dele é a sua crítica a sociedade inglesa e é exatamente o que ele faz ao longo de todo o livro. O embate entre o maléfico fantasma de Canterville, responsável pelas maiores atrocidades contra seus contemporâneos, e a insensível família americana que não tem a dignidade de se sentir assustada com um fantasma de tal gabarito. Quem sabe termino de ler Dorian Gray depois de seis anos?








sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Equal Rites - Terry Pratchett

                    Detalhes do Livro:
Nome original: Equal Rites.
Tradução: Direitos Iguais, Rituais Iguais
Autor: Terry Pratchett
Lançamento: Original: 1987.
                       Em português:2002.
Páginas: Versão comemorativa de 25 anos (lida): 213.
                Versão em português: 221.

À esquerda, a capa original (traduzida) e à direita, a versão comemorativa de 25 anos da série que foi lida por mim.    




[ATENÇÃO: O LIVRO FOI LIDO EM SEU IDIOMA ORIGINAL, INGLÊS, PORTANTO MUITOS TERMOS UTILIZADOS PODEM NÃO SER EXATOS, CONSEQUENTES DE UMA TRADUÇÃO LIVRE FEITA POR MIM.]

           Equal Rites é o terceiro livro da série Discworld escrita por Terry Pratchett, diferenciando-se por não se focar mais no inepto mago, Rincewind, porém ainda passando-se no mesmo universo, o Disco, o início de uma tradição da série, mudança de personagens principais a cada livro até a eventual formação de 4 ou 5 histórias simultâneas, mas isso fica pra resenhas futuras...
            O plot começa quando Drum Billet, um mago perto do final de sua vida, chega no pequeno vilarejo de Bad Ass (Sério.). Sua vinda deve-se ao fato de que lá nascerá um oitavo filho de um oitavo filho. É sabido que o 8 é um número poderoso e que todos os oitavos filhos têm potenciais mágicos notáveis, duplamente no caso da criança que está por vir. Então Drum Billet resolve deixar seu cajado, símbolo da graduação de um mago e fonte de poder para a criança que está pra nascer. Na pressa para transferir rapidamente o cajado antes que chegue sua hora, o mago ignora os avisos de Granny Weatherwax, bruxa do vilarejo, parteira e uma das personagens principais, de que o bebê trata-se de uma menina, só ouvindo-a quando é tarde demais. Assim, tem-se, pela primeira vez no Disco, uma mulher maga: Eskarina.
Eskarina cresce como uma criança normal, porém começa a apresentar poderes mágicos de tal magnitude que ele ‘vaza’, assim, Granny Weatherwax oferece a Eskarina a oportunidade de ela ser sua aprendiz e tornar-se bruxa, controlando seus poderes, que caso não sejam domados podem chamar a atenção de criaturas perigosas das Dungeon Dimensions, lar de monstros dignos de pesadelos. Mas toda essa iniciativa de Granny não consegue conter o desejo de Eskarina de tornar-se maga e tentar a sorte na Unseen University, contra todo o preconceito.
Antes de qualquer coisa, vale-se notar que este assunto foi abordado sutilmente nos dois livros anteriores, normalmente por meio de anedotas, em que não se permitia que mulheres ingressassem na Unseen Academicals, universidade de magia, pois se temia que elas fossem magas competentes demais, por exemplo. Neste livro, rapidamente é feita a distinção que permeará toda a história. Apenas homens são magos, já que não aceitam mulheres, apenas mulheres são bruxas, pois os homens consideram seu ramo de magia muito inferior.
Eskarina é uma personagem jovem, de personalidade forte e que simplesmente não consegue entender porque não lhe permitem iniciar seus estudos de magia por ser mulher, mesmo ela apresentando talento inimaginável. Em suas viagens até a Unseen University, ela conhece Simon, um menino gago e tímido, com potencial tão grande quanto o dela, talvez maior. Mesmo com poderes comparáveis, Simon está sendo escoltando por um professor da universidade pessoalmente e sendo paparicado como o próximo grande gênio a pisar na universidade, enquanto Eskarina, tão similar, é ignorada simplesmente por ser mulher, formando um paralelo interessante.
Já Granny Weatherwax é outra personagem inédita pela série e, pelo o pouco que sei dos livros futuros, permanecerá durante boa parte da série. É uma velha bruxa, talvez uma das melhores, sem papas na língua e um pouco arrogante e rabugenta. Por meio dela, neste livro, somos apresentados ao mundo das bruxas. Bruxas possuem uma gama de funções, sendo responsáveis por partos, como já ditos, cura de doenças utilizando ervas, preparo de poções, algumas fortemente similares com remédios, e, é claro prática de magia. Mas até sua magia é diferente, enquanto a dos magos é extremamente complicada e ‘glamourosa’, a das bruxas é velada, tendo como suporte a Headology. Em linhas gerais, a Headology é o poder da crença e eu irei me abster de outros comentários, para não estragar todo o humor das várias instâncias de Headology pelo livro.
Esses personagens, já interessantes por si só, tornam-se muito mais pelo contexto de preconceito e, sendo mais específico, sexismo que forma o esqueleto da história. Granny Weatherwax representa o caso oposto do preconceito dos magos pelas bruxas, inferiorizando a magia à favor da bruxaria, talvez como mecanismo de defesa ou talvez por ela simplesmente ser tão boa bruxa assim. Eskarina, por sua vez, é a menina recém envolvida neste contexto e que repete a inconfortável pergunta: POR QUE mulheres não podem estudar magia?
Outro ponto interessante é que os perpretadores deste machismo são ignorantes aos seus motivos. Talvez minha escolha de palavras não tenha sido a melhor, mas o que quero dizer é que de Simon, o aluno genial, até a Cutangle, o Archchancellor da Universidade, a resposta para as perguntas de Eskarina é a mesma, que mulheres não podem estudar magia porque é contra a tradição, nunca aconteceu antes. E isso, pra eles, é motivo suficiente para finalizar a discussão, sem saber o porquê desta tradição existir e, mais importante, porque exatamente ela deve ser mantida.
O que, na minha opinião, faz este livro ser esplêndido é que, enquanto há assuntos sérios sendo abordados, a abordagem é, digamos assim, bem-humorada. O livro definitivamente não faz pouco caso do problema que está tratando e o critica abertamente, mas nunca perde aquela pitada de, digamos assim, bobeira. Mesmo sendo uma metáfora para a dificuldade das mulheres entrarem em certos nichos estereotipicamente masculinos, ainda se trata de uma história de uma menina com poder vazando tentando entrar na universidade de magia, enquanto monstros baseados nas histórias de H.P. Lovecraft são atraídos por seu poder e de Simon, na tentativa de invadir a dimensão do Disco.
Em suma, Equal Rites faz o balanço entre o típico humor de Terry Pratchett e a abordagem de um assunto social sério, tornando sua leitura uma atividade incrivelmente prazerosa.