Cartas
na Rua
Charles Bukowski
Charles
Bukowski se tornou um nome conhecido por mim ao longo desse ano, me enveredando
pelos caminhos obscuros e tortuosos da literatura considerada mais alternativa (aff!), Bukowski era um nome recorrente e, num arrombo de
consumismo pocketiano, junto com outros livros da LP&M acabei comprando Cartas na Rua, sem saber direito da
história, sem conhecer direito o autor e sem nunca ter lido uma resenha.
É
um livro curto e rápido. Foram 185
páginas (relembrando, pocket book) em, sei lá, quatro, cinco horas?
O
livro começa com Henry Chinaski, um grande beberrão, que se candidata a vaga de
carteiro temporário. E é isso, ao longo das páginas Charles Bukowski conta a
vida de um cidadão ordinário, pobre, com um tipo de sub-vida, onde o trabalho
permite a sua sobrevivência entre álcool, mulheres e apostas. Ao longo dos
anos, Henry trabalha como carteiro temporário, tendo que aguentar as situações
mais bizarras e caricatas; passa por marido sustentado por família rica da
esposa e termina, de novo, na agência dos Correios dos Estados Unidos,
inclinado em cima de uma mesa separando correspondências por código postal.
Não
só porque a história é contada em primeira pessoa, mas conhecendo um pouco a
fama de beberrão do autor, percebe-se de primeira que este primeiro romance que
Henry é o alter-ego de Bukowski (que mais tarde descobri, também trabalhou para
os Correios). Num primeiro momento eu fiquei me perguntando o que – pelos gnomos
azuis guardiões da natureza – ele queria com esse livro. Assim, é ótimo para
apresentar seu estilo.. sem censura nos palavrões, sexo e bebida. Os porres
como eles foram, o sexo como ele foi... o que não deixa de ser renovador para
alguém que não está acostumada com esse tipo de literatura. Mas, ainda assim, o
que ele queria?
E
foi só um par de horas depois, pensando no assunto para escrever essa resenha,
foi que encontrei a resposta. Ou, pelo menos, achei a minha resposta. E é uma resposta merecedora de uns bons tapas na
testa de tão óbvia que era. Há toda uma crítica ao longo do livro ao tipo de
sub-trabalho que as pessoas são obrigadas a suportar, um trabalho que só gera
infelicidade, agravada por supervisores/gerentes/superiores que se sentem
satisfeitos em desempenhar esse papel contraditório, visto que, já estiveram no
lugar de tais trabalhadores. Um tipo de trabalho com 12 horas de duração, onde
exigências impossíveis são feitas e que consome toda sua energia, sua alma...
te transformando em um fantasma, um pálido reflexo de vida.
É
um livro que me fez pensar, tanto para entender o que ele queria falar, como
depois. Traz um pouco daquela desesperança que se tem quando se desiste de
nadar contra a corrente, quando se começa a aceitar coisas porque é do jeito que é. Mas é uma coisa boa,
eu acho. Porque, de certa forma, chama a sua atenção para isso e, quando
acontecer na vida real, você já está mais atento para agir de acordo quando
essa sensação bater.
Uma
boa leitura para o primeiro dia do ano. o/
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