Tradução: Direitos Iguais, Rituais Iguais
Autor: Terry Pratchett
Lançamento: Original: 1987.
Em português:2002.
Páginas: Versão comemorativa de 25 anos (lida): 213.
Versão em português: 221.
À esquerda, a capa original (traduzida) e à direita, a versão comemorativa de 25 anos da série que foi lida por mim.
[ATENÇÃO: O LIVRO FOI LIDO
EM SEU IDIOMA ORIGINAL, INGLÊS, PORTANTO MUITOS TERMOS UTILIZADOS PODEM
NÃO SER EXATOS, CONSEQUENTES DE UMA TRADUÇÃO LIVRE FEITA POR MIM.]
Equal Rites
é o terceiro livro da série Discworld escrita por Terry Pratchett,
diferenciando-se por não se focar mais no inepto mago, Rincewind, porém ainda passando-se
no mesmo universo, o Disco, o início de uma tradição da série, mudança de
personagens principais a cada livro até a eventual formação de 4 ou 5 histórias
simultâneas, mas isso fica pra resenhas futuras...
O plot
começa quando Drum Billet, um mago perto do final de sua vida, chega no pequeno
vilarejo de Bad Ass (Sério.). Sua vinda deve-se ao fato de que lá nascerá um
oitavo filho de um oitavo filho. É sabido que o 8 é um número poderoso e que
todos os oitavos filhos têm potenciais mágicos notáveis, duplamente no caso da
criança que está por vir. Então Drum Billet resolve deixar seu cajado, símbolo
da graduação de um mago e fonte de poder para a criança que está pra nascer. Na
pressa para transferir rapidamente o cajado antes que chegue sua hora, o mago ignora
os avisos de Granny Weatherwax, bruxa do vilarejo, parteira e uma das
personagens principais, de que o bebê trata-se de uma menina, só ouvindo-a
quando é tarde demais. Assim, tem-se, pela primeira vez no Disco, uma mulher
maga: Eskarina.
Eskarina cresce como uma criança
normal, porém começa a apresentar poderes mágicos de tal magnitude que ele ‘vaza’,
assim, Granny Weatherwax oferece a Eskarina a oportunidade de ela ser sua
aprendiz e tornar-se bruxa, controlando seus poderes, que caso não sejam
domados podem chamar a atenção de criaturas perigosas das Dungeon Dimensions,
lar de monstros dignos de pesadelos. Mas toda essa iniciativa de Granny não
consegue conter o desejo de Eskarina de tornar-se maga e tentar a sorte na
Unseen University, contra todo o preconceito.
Antes de qualquer coisa, vale-se
notar que este assunto foi abordado sutilmente nos dois livros anteriores,
normalmente por meio de anedotas, em que não se permitia que mulheres ingressassem
na Unseen Academicals, universidade de magia, pois se temia que elas fossem magas
competentes demais, por exemplo. Neste livro, rapidamente é feita a distinção
que permeará toda a história. Apenas homens são magos, já que não aceitam
mulheres, apenas mulheres são bruxas, pois os homens consideram seu ramo de
magia muito inferior.
Eskarina é uma
personagem jovem, de personalidade forte e que simplesmente não consegue
entender porque não lhe permitem iniciar seus estudos de magia por ser mulher,
mesmo ela apresentando talento inimaginável. Em suas viagens até a Unseen
University, ela conhece Simon, um menino gago e tímido, com potencial tão
grande quanto o dela, talvez maior. Mesmo com poderes comparáveis, Simon está
sendo escoltando por um professor da universidade pessoalmente e sendo
paparicado como o próximo grande gênio a pisar na universidade, enquanto
Eskarina, tão similar, é ignorada simplesmente por ser mulher, formando um
paralelo interessante.
Já Granny
Weatherwax é outra personagem inédita pela série e, pelo o pouco que sei dos
livros futuros, permanecerá durante boa parte da série. É uma velha bruxa,
talvez uma das melhores, sem papas na língua e um pouco arrogante e rabugenta. Por
meio dela, neste livro, somos apresentados ao mundo das bruxas. Bruxas possuem
uma gama de funções, sendo responsáveis por partos, como já ditos, cura de
doenças utilizando ervas, preparo de poções, algumas fortemente similares com
remédios, e, é claro prática de magia. Mas até sua magia é diferente, enquanto
a dos magos é extremamente complicada e ‘glamourosa’, a das bruxas é velada,
tendo como suporte a Headology. Em linhas gerais, a Headology é o poder da
crença e eu irei me abster de outros comentários, para não estragar todo o
humor das várias instâncias de Headology pelo livro.
Esses
personagens, já interessantes por si só, tornam-se muito mais pelo contexto de
preconceito e, sendo mais específico, sexismo que forma o esqueleto da história.
Granny Weatherwax representa o caso oposto do preconceito dos magos pelas
bruxas, inferiorizando a magia à favor da bruxaria, talvez como mecanismo de
defesa ou talvez por ela simplesmente ser tão boa bruxa assim. Eskarina, por
sua vez, é a menina recém envolvida neste contexto e que repete a inconfortável
pergunta: POR QUE mulheres não podem estudar magia?
Outro ponto
interessante é que os perpretadores deste machismo são ignorantes aos seus
motivos. Talvez minha escolha de palavras não tenha sido a melhor, mas o que
quero dizer é que de Simon, o aluno genial, até a Cutangle, o Archchancellor da
Universidade, a resposta para as perguntas de Eskarina é a mesma, que mulheres
não podem estudar magia porque é contra a tradição, nunca aconteceu antes. E
isso, pra eles, é motivo suficiente para finalizar a discussão, sem saber o
porquê desta tradição existir e, mais importante, porque exatamente ela deve
ser mantida.
O que, na minha
opinião, faz este livro ser esplêndido é que, enquanto há assuntos sérios sendo
abordados, a abordagem é, digamos assim, bem-humorada. O livro definitivamente
não faz pouco caso do problema que está tratando e o critica abertamente, mas
nunca perde aquela pitada de, digamos assim, bobeira. Mesmo sendo uma metáfora
para a dificuldade das mulheres entrarem em certos nichos estereotipicamente
masculinos, ainda se trata de uma história de uma menina com poder vazando
tentando entrar na universidade de magia, enquanto monstros baseados nas histórias
de H.P. Lovecraft são atraídos por seu poder e de Simon, na tentativa de
invadir a dimensão do Disco.
Em suma, Equal
Rites faz o balanço entre o típico humor de Terry Pratchett e a abordagem de um
assunto social sério, tornando sua leitura uma atividade incrivelmente
prazerosa.