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segunda-feira, 30 de julho de 2012

Belas Maldições, Neil Gaiman & Terry Pratchett



Belas Maldições
Neil Gaiman e Terry Pratchett


O que acontece quando se junta um autor invariavelmente famoso e adorado com outro, invariavelmente desconhecido e venerado?

Um livro invariavelmente muito engraçado.

Não do tipo que te faz gargalhar histericamente de vez em quando, mas daquele que você lê com  um sorriso nos lábios do início ao fim e que volta e meia faz com que se receba olhares tortos de pessoas próximas que assistem a disputa do bronze do tiro com arco. (A Coréia do Sul (?) ganhou, caso alguém se interesse, apesar de eu estar torcendo bastante para o carinha de óculos do México.)

Bem, eu estou falando de Belas Maldições escrito por Neil Gaiman (o famoso) e Terry Pratchett (o desconhecido).


Os Autores.

O Neil é responsável por livros como Stardust, Deuses Americanos, Coraline e pela HQ Sandman e – apesar da minha recente implicância com ele por causa das postagens e propagandas sem-graça que ele feito no blog dele– ele sabe, não só escrever bem um livro, mas como criar uma história. (O meu favorito é Stardust!)

O Sir Terry Pratchett é um daqueles autores absurdamente famosos. Mas muito famosos mesmo. (Negrito e itálico, isso que é enfatizar.) Mas que você nunca ouviu falar dele na sua vida inteira, até que aconteceu. Seus livros se passam basicamente em um único universo, o Discworld, o que pode parecer falta de criatividade. Mas eu digo com toda a minha experiência de apenas um livro dele lido, o que não falta nesse homem é criatividade.


A Sinopse (ou coisas bem-boladas e estrategicamente pensadas para chamar a sua atenção e te fazer ler esse livro sem parecer tudo muito intimidante).

O Apocalipse está prestes a acontecer, o Anticristo – a criatura mais poderosa da Terra e alguém extremamente preocupado com o meio ambiente – está prestes a se manifestar e um anjo e um demônio não gostam nem um pouco do que isso tudo está prestes resultar.

Aziraphale o anjo e Crowley o demônio gostam muito deste mundo, aqui eles se sentem confortáveis e já estão bastante acostumados e, por isso, decidem juntos impedir que toda essa história desnecessária de guerra entre o céu e o inferno e, consequentemente, o fim do mundo aconteça conforme planejado pelos seus Superiores (um caso de insubordinação bíblica), e, para isso, precisam lidar com a série de inconveniências que aparecem com o tempo como caçadores de bruxas, bruxas, precipitações climáticas envolvendo peixes e.. lagostas, desmaterializações e, claro, a maneira como qualquer cd que permaneça dentro do carro por mais de três dias insiste em se transformar em um cd dessa banda inglesa bem famosa. Além, claro, de matar o Anticristo.  E precisam fazer tudo isso até – como descrito no livro “As Belas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, Bruxa” ­– sábado. O próximo sábado.

E claro. Há um grande mal-entendido.


A Opinião.

Eu nunca gostei particularmente de histórias envolvendo anjos, demônios ou nada remotamente religioso. Mas Belas Maldições vale muito a pena. É um livro incrivelmente engraçado, com aquele humor que lembra O Guia do Mochileiro das Galáxias, um humor bem britânico. Cheio de ironias e referências a todas essas maluquices do mundo moderno, a cultura pop e incoerências bastante humanas.

Como na história um anjo e um demônio se juntam para impedir o Apocalipse e manter o mundo do jeito que ele é, há uma série de embates morais entre eles, te fazendo pensar no que seria o bem e o mal, na necessidade do Apocalipse e toda essa guerra entre o Bem e o Mal. Sobre o que esse plano inefável seria realmente.

Tendo lido livros dos dois autores, eu consigo ver em todo o livro um pouco do estilo de cada um e, ao mesmo tempo, ambos estão tão bem costurados que não dá para dizer que parte um ou outro escreveu, o que eu acho incrível (Enfatizar! Enfatizar!).  E queria muito saber como foi que eles começaram isso tudo. Eles pensaram na história toda antes de sentar para escrever ou o destino dos personagens veio conforme as letrinhas apareceram?

Acima (ou abaixo, dependendo do referencial) de tudo, o que eu mais gostei foi a maneira como o livro foi escrito. Eu adoro digressões. Sou uma fã incondicional de digressões. Eu poderia ser presidente do partido dos utilizadores de digressões em obras literárias (PUDOL, nosso símbolo é uma flecha com enfeites mexicanos – sim, eu estava realmente torcendo para ele – e estaremos concorrendo para a secretaria legislativa da ABL em 2017, contamos com seu apoio).

 Afinal, quem precisa de uma linha contínua de idéias? Informações aleatórias sobre fatos aleatórios é o que há de melhor!

Enfim, é um livro muito bom que trata de temas um tanto quanto delicados, mas consegue fazer isso com personalidade, humor, ironia e delicadeza. Sem ofender ninguém.


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aqui tem um link para uma pequena lista de resoluções de fim de ano do Crowey e do Aziraphale escrito pelos autores. Bem legal.

E pesquisando no Dicionário inFormal, descobri que inefável significa “...[aquilo] que não pode ser expresso verbalmente. Algo de origem divina, dotado de tantos atributos de perfeição e beleza, que transcende os limites da linguagem humana.” Isso pode ser útil para alguém, algum dia.


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